Wednesday, July 22, 1998

Lídio Toledo: entrevista

- O que aconteceu horas antes da final?

"Escutei o Leonardo gritando que o Ronaldinho estava passando mal. Quando cheguei no quarto, ele estava deitado, respirando fundo e com secreção salivar na boca. Limpei a saliva, vi o pulso e a respiração. Estava normal, mas os jogadores que viram o que houve ficaram abalados. Eu não. Não é verdade que eu tenha chorado. Alguns jogadores perguntaram: 'Vai morrer?' Respondi que não. Chamei o Joaquim, que é o clínico, e disse para ele que o jogador parecia ter tido uma crise convulsiva. Mais tarde, o Joaquim me telefonou no restaurante e disse: 'Está tudo bem, o Ronaldinho não se lembra de nada e só reclama de cansaço nas pernas.' Ronaldo veio tomar o lanche e perguntei como ele estava. O jogador disse que estava normal. Expliquei o quadro e ele pareceu apavorado. Falei que ele teria que fazer exames e em princípio estaria fora do time. Ele reclamou. Chamei o doutor Joaquim e pedi para ele levar Ronaldinho para fazer um exame neurológico completo. Eles foram para o hospital e três horas depois fomos para o estádio. O Joaquim telefonou dizendo que os exames não acusaram nada. Quarenta minutos depois chegaram os dois. Ronaldinho foi na rouparia, pegou chuteira, meia, sentou e já ia calçando. Eu disse: 'Peraí. Você está fora do time.' Ele respondeu: 'O senhor não acha que é uma injustiça eu treinar, jogar toda a Copa e hoje ficar de fora?' Então, conversamos eu, Zagallo, Joaquim e o jogador. Diante da opinião dos colegas especializados e do jogador, resolvi deixá-lo jogar."

- Os médicos do Internazionale criticaram o sr. por colocar em campo alguém que teve uma crise nervosa antes do jogo?

"É porque após uma crise convulsiva o sujeito fica sem iniciativa, meio torporoso. Mas o Ronaldinho não teve nada disso. Ele acordou eufórico. Aparentemente, não havia risco de uma nova convulsão."

- O sr. considera a possibilidade de epilepsia?

"Eu não sei o que causou a crise. Para isso, é preciso fazer exames detalhados. Há casos raros em que a convulsão por epilepsia acontece apenas uma vez, mas não estou afirmando que ele tenha isso."

- Há uma versão de que o problema de Ronaldo pode ter sido causado por uma possível infiltração.

"Não teve nada disso. Não faço infiltração antes do jogo. Primeiro porque é contra a ética e segundo porque infiltração com xilocaína anestésica e cortisona dá positivo no exame antidoping."

- É possível que a crise tenha sido causada pelo medicamento Voltarem. A bula diz que esse é um de seus efeitos colaterais?

"Realmente dei a ele esse antiinflamatório, uma semana antes do jogo. Mas se a gente levar as bulas ao pé da letra não se receita remédio nenhum."