Friday, July 17, 1998

A Versão da Folha de S.Paulo

* Ronaldinho não teve uma convulsão. Relatos de jogadores, de funcionários do hotel e da clínica que atendeu o jogador atestam que não houve problema neurológico
* Atacante mostrou sinais de depressão e irritação desde a sexta-feira, chegando a destruir uma bicicleta contra a parede
* Ronaldinho teve uma crise nervosa. Roberto Carlos chamou outros jogadores dando gritos pela janela. Lídio Toledo entrou no quarto; quando saiu, estava chorando
* Depois de socorrido, ele não dormiu. Os jogadores queriam que o colega fosse medicado e discutiram com Toledo, que negou qualquer medicação para evitar doping
* Os jogadores deixaram a concentração em silêncio, sem as batucadas ouvidas pelos funcionários em outros dias de jogos na Copa
* No vestiário, Zico foi o único integrante da comissão técnica contrário à escalação do atleta para jogar a final; durante a reunião, a comissão tratou o caso como crise nervosa

O atacante Ronaldinho, 21, sofreu na tarde de domingo uma crise nervosa, e não um distúrbio neurológico como vinha sendo anunciado pela Confederação Brasileira de Futebol. O fato deixou a comissão técnica da seleção desesperada e provocou um racha na equipe antes do jogo decisivo da 16ª Copa do Mundo de futebol.

Nas seis horas que se seguiram, até o início da partida contra a França, o Brasil perdeu o pentacampeonato. A derrota de 3 a 0 foi uma trágica consequência de acontecimentos que misturam despreparo, irresponsabilidade, incompetência e vaidade. Ingredientes de uma novela de informação e contra-informação, em que o mal de Ronaldinho ganhou várias versões, de "contusão no tornozelo" a "convulsão de 30 segundos de causa ignorada" _nenhuma delas verdadeira.

A Folha reconstituiu o que aconteceu nas seis horas transcorridas entre a concentração do time, no Château de Grande Romaine, em Lésigny, e o vestiário do Stade de France, em Saint-Denis, local da partida.

Junto a funcionários do hotel, jogadores, assessores de imprensa, delegados da Fifa e médicos, apurou que a seleção já sabia que seu artilheiro atravessava problemas emocionais, com sinais de depressão e irritação.

Apurou que Lídio Toledo teve um acesso de choro ao ver o atacante prostrado no seu quarto, contido à força por companheiros depois do ataque de nervos. Que alguns jogadores discordaram das decisões do médico da CBF (temendo o exame antidoping, não medicou Ronaldinho), gerando um bate-boca que se estendeu até os vestiários do estádio da final. Que, pela primeira vez no Mundial, o ônibus deixou o hotel sem a batucada animada habitual dos atletas. Que, por causa do racha, a seleção não fez o aquecimento no campo. Que a comissão técnica não foi unânime ao resolver escalar o atacante contra os franceses, como também vinha sendo divulgado -- o coordenador Zico se opôs. Apurou, enfim, que a seleção brasileira, apontada como favorita ao título, com os melhores e mais bem pagos jogadores do planeta, é uma bagunça.