Monday, July 20, 1998

Edmundo: dia doze

- Conte com detalhes a história do dia 12.

"Tá. Mas primeiro queria dizer que sempre fiquei muito na minha, no quarto. Por isso não tenho suspeitas sobre o que aconteceu para ocasionar aquilo. Mas eu sei o que vi naquele dia. E não vou esquecer. Meu quarto e do Doriva era o 289. O quarto do Ronaldo e do Roberto, o 290. Porta com porta. Eu estava descansando e ouvi o Roberto gritar: 'Edmundo, Doriva!!! O Ronaldo está passando mal!' Corremos até lá, assustados, e vimos o Ronaldo naquele estado."

- Tremendo?

"Muito. Mas muito, muito, muito. Ele se debatia, batia perna com braço, braço com perna, a língua enrolando. Fazia um barulho estranho, de tentar respirar forte e não conseguir. Saí gritando pelo corredor, voltei com César Sampaio. Segurei o Ronaldo com toda a força e o César desenrolou a língua dele. Aí é que chegaram os médicos. Ele ficou ainda muito ofegante, por uns 15 minutos. Até que adormeceu por uma hora. Acordou perto de 17 horas e foi para o lanche, onde todo mundo já estava. Os médicos tinham nos dito para não comentarmos, pois ele não se lembraria de nada. Ninguém falou, mas os olhares arregalados estavam em cima dele. Ele não percebia porque estava desligadão. Seu comentário era esse: 'Pô, dei uma dormida e acordei com o corpo todo mole... Minhas pernas estão doendo muito. Vou dormir mais um pouco'. E levantou. Foi aí que resolveram contar tudo a ele."

- Isso marcou o dia de forma negativa...

"A concentração foi pelo ralo. E fomos para o estádio sem vê-lo. Todos preocupados, calados, se sentindo estranhos. O que vi me impressionou muito. Não só porque é uma pessoa que gosto, mas pela cena inacreditável. Hoje ainda fecho os olhos e ele está lá, na minha cabeça, tremendo. Espero que ele não se importe de eu contar isso, porque quero muito bem a ele."

- Ele quis mesmo jogar?

"Ouvi ele dizendo que queria."

- A Nike exigiu o Ronaldo em campo?

"Presenciei quando ele disse ao Zagallo: 'Vou jogar, estou bem'. Olha a situação do Zagallo! Depois, se a gente perdesse, iam reclamar do contrário: 'Por que não botou o Ronaldo', e tal... Mas, em muitos sentidos, sempre tem o dedo do patrocinador. Já participei de Seleção com a Umbro, com a Topper, e nunca vi ninguém lá dentro da Seleção. O pessoal da Nike estava lá 24 horas por dia. Como se fizesse parte da comissão. Uma força enorme, a maior que já vi. É só o que dá para dizer."