Thursday, June 15, 2006

Runco

O estresse provocado pela cobrança e pressão por um excelente desempenho na Copa do Mundo pode ser a causa das tonturas que acometeram Ronaldo durante esta semana. A avaliação é do médico da seleção brasileira, José Luiz Runco.

"Está dentro do que pode acontecer", afirmou Runco. "Não podemos afastar a possibilidade da sobrecarga de estresse ser o motivo da pessoa ter um quadro de tonteira", analisou o médico.

Ronaldo foi levado na quarta-feira ao hospital Zun Heiligen Geist, em Frankfurt, para realizar exames de sangue, tomografia e endoscopia por causa das tonturas. Segundo o médico, o jogador já havia se queixado de um mal-estar similar no último dia 8, quando apresentou um quadro febril e ficou fora de um treinamento.

"Não existe nenhum problema, vimos os exames e não há nada", afirmou o técnico Carlos Alberto Parreira. "Acompanhamento agora é o cuidado alimentar e a medicação que ele já está tomando", completou o médico.

Por causa da medicação tomada para os seus vários males recentes, como uma lesão muscular, havia a possibilidade do jogador ter desenvolvido uma gastrite, razão da endoscopia e do conseqüente cuidado alimentar citado por Runco.

"Quando você faz o tratamento de um processo inflatamatório, você faz um carga medicamental pesada. E no momento que você teve um quadro de tonteira por mal-estar, tem que pensar que ele pode ter tido um quadro de gastrite. Se eu estava no hospital, e estava em condição de fazer (todos os exames), tinha que clarear a situação", explicou o médico da seleção.

Runco se negou a comentar se o quadro atual de Ronaldo pode ter alguma semelhança com o estresse que provocou a convulsão sofrida pelo atacante horas antes da final da Copa do Mundo de 1998, na França.

"Não sei responder porque não estava no Mundial da França. Não era o médico da seleção brasileira", afirmou. Na época, quem desempenhava a função era Lidio Toledo. Mesmo debilitado, o jogador foi escalado pelo então técnico, hoje coordenador, Mario Jorge Lobo Zagallo. O Brasil perdeu por 3 a 0.

Apesar da pressão poder influenciar o estado do jogador, Runco não crava o emocional como foco da origem dos problemas que Ronaldo tem tido nas últimas semanas. "Só posso partir para o emocional quando fecho todo o meu lado orgânico", afirmou.

Após a má atuação na partida contra a Croácia, terça-feira, na estréia do Brasil no Mundial da Alemanha, o atacante do Real Madrid foi alvo de críticas de torcida e imprensa, inclusive a internacional. Chegou até mesmo a ter seu desempenho analisado por companheiros. Kaká, por exemplo, pediu "mais movimentação" a Ronaldo.

"Temos conversado, estado juntos na concentração. Ele está muito tranquilo, superou bem os problemas dos exames medicos, de ter saido do time, de não ter jogado bem. O que queremos é o Ronaldo motivado para o segundo jogo", disse Parreira.

Ronaldo

"A CBF deixou claro no seu site para a gente evitar qualquer tipo de especulação. No dia de folga (ontem) me senti indisposto, com um mareio. Falei para o médico, a gente foi para o hospital fazer uma série de exames. Não foi encontrado nada de anormal. É uma tranqüilidade a mais que a gente precisava. Hoje, me encontro bem melhor", disse o atacante.

Na quarta, dia de folga, o atacante realizou exames numa clínica de Frankfurt por sentir tonturas e dor de cabeça. O assessor de imprensa, Rodrigo Paiva, disse desconhecer se uma endoscopia esteve entre os exames feitos pelo atacante. O técnico Carlos Alberto Parreira não confirmou nem desmentiu o procedimento.

Na manhã desta quinta, Ronaldo, acompanhado por Cafu e por membros da comissão técnica -inclusive Parreira-, realizou exercícios na academia localizada ao lado do hotel da seleção, em Königstein. "Hoje de manhã já teve um trabalho bom de bicicleta ergométrica e musculação. Hoje à tarde vou treinar. Já estou pronto para o jogo. Só penso no jogo", revelou o atacante.

Ronaldo disse também que tomou remédios -sem especificar quais- ontem, apenas. "Hoje não tomei nenhum remédio. Procuramos nos cercar de toda informação que pudéssemos para assegurar que não tinha nada de grave, nada que pudesse me incomodar. E hoje me sinto bem melhor".

Falando do jogo contra a Croácia, em que recebeu apenas 14 bolas -menor número entre os brasileiros-, o artilheiro da Copa de 2002 reconheceu que não foi bem. Mas não por problemas médicos. "Não senti nada antes ou durante o jogo contra a Croácia. Tenho a consciência que não foi uma atuação de que eu gostaria de ter tido numa estréia de Copa do Mundo, mas o mais importante foi que a gente ganhou o jogo. Sabemos que a expectativa é sempre enorme em cima de mim, do que faço, de como eu jogo. Então, espero que no próximo jogo eu esteja melhor, jogue melhor. Para mim, principalmente para mim".

Questionado sobre os motivos de seu rendimento abaixo do esperado, o atacante desconversou. "Não está escrito no meu manual que eu tenho que jogar bem sempre. Não está escrito".

Ronaldo revelou, também, que aceitaria ser reserva de Robinho, que entrou bem no segundo tempo do jogo de estréia da seleção. "Sempre aceitei tudo. Não sou nenhum jogador rebelde, não sou revoltado".

A tontura é mais um problema enfrentado pelo jogador do Real Madrid na Alemanha, após as polêmicas sobre seu peso, as bolhas que o tiraram no intervalo do amistoso com a Nova Zelândia e a febre poucos dias antes da estréia.

Para o atacante, no entanto, a reincidência desses problemas físicos não está ligada ao seu emocional. "Não me sinto pressionado além do que é normal para uma Copa do Mundo, não estou sendo influenciado."

Antes da estréia na Copa, ele afirmou que não teria condições físicas para suportar os 90 minutos da partida, já que estava sem jogar desde abril no Real por causa de um problema muscular.

Mas o desempenho de Ronaldo no primeiro jogo do Mundial foi decepcionante. Ele ficou preso na marcação, mostrou pouca movimentação e, efetivamente, pouco participou da partida. O "Fenômeno" foi substituído aos 24min da segunda etapa por Robinho e chegou a ser vaiado ao deixar o gramado.