Thursday, May 01, 2008

Gato por Lebre

Saturday, October 27, 2007

Bussunda Review

Monday, June 25, 2007

Zico: comando

Thursday, June 15, 2006

Runco

O estresse provocado pela cobrança e pressão por um excelente desempenho na Copa do Mundo pode ser a causa das tonturas que acometeram Ronaldo durante esta semana. A avaliação é do médico da seleção brasileira, José Luiz Runco.

"Está dentro do que pode acontecer", afirmou Runco. "Não podemos afastar a possibilidade da sobrecarga de estresse ser o motivo da pessoa ter um quadro de tonteira", analisou o médico.

Ronaldo foi levado na quarta-feira ao hospital Zun Heiligen Geist, em Frankfurt, para realizar exames de sangue, tomografia e endoscopia por causa das tonturas. Segundo o médico, o jogador já havia se queixado de um mal-estar similar no último dia 8, quando apresentou um quadro febril e ficou fora de um treinamento.

"Não existe nenhum problema, vimos os exames e não há nada", afirmou o técnico Carlos Alberto Parreira. "Acompanhamento agora é o cuidado alimentar e a medicação que ele já está tomando", completou o médico.

Por causa da medicação tomada para os seus vários males recentes, como uma lesão muscular, havia a possibilidade do jogador ter desenvolvido uma gastrite, razão da endoscopia e do conseqüente cuidado alimentar citado por Runco.

"Quando você faz o tratamento de um processo inflatamatório, você faz um carga medicamental pesada. E no momento que você teve um quadro de tonteira por mal-estar, tem que pensar que ele pode ter tido um quadro de gastrite. Se eu estava no hospital, e estava em condição de fazer (todos os exames), tinha que clarear a situação", explicou o médico da seleção.

Runco se negou a comentar se o quadro atual de Ronaldo pode ter alguma semelhança com o estresse que provocou a convulsão sofrida pelo atacante horas antes da final da Copa do Mundo de 1998, na França.

"Não sei responder porque não estava no Mundial da França. Não era o médico da seleção brasileira", afirmou. Na época, quem desempenhava a função era Lidio Toledo. Mesmo debilitado, o jogador foi escalado pelo então técnico, hoje coordenador, Mario Jorge Lobo Zagallo. O Brasil perdeu por 3 a 0.

Apesar da pressão poder influenciar o estado do jogador, Runco não crava o emocional como foco da origem dos problemas que Ronaldo tem tido nas últimas semanas. "Só posso partir para o emocional quando fecho todo o meu lado orgânico", afirmou.

Após a má atuação na partida contra a Croácia, terça-feira, na estréia do Brasil no Mundial da Alemanha, o atacante do Real Madrid foi alvo de críticas de torcida e imprensa, inclusive a internacional. Chegou até mesmo a ter seu desempenho analisado por companheiros. Kaká, por exemplo, pediu "mais movimentação" a Ronaldo.

"Temos conversado, estado juntos na concentração. Ele está muito tranquilo, superou bem os problemas dos exames medicos, de ter saido do time, de não ter jogado bem. O que queremos é o Ronaldo motivado para o segundo jogo", disse Parreira.

Ronaldo

"A CBF deixou claro no seu site para a gente evitar qualquer tipo de especulação. No dia de folga (ontem) me senti indisposto, com um mareio. Falei para o médico, a gente foi para o hospital fazer uma série de exames. Não foi encontrado nada de anormal. É uma tranqüilidade a mais que a gente precisava. Hoje, me encontro bem melhor", disse o atacante.

Na quarta, dia de folga, o atacante realizou exames numa clínica de Frankfurt por sentir tonturas e dor de cabeça. O assessor de imprensa, Rodrigo Paiva, disse desconhecer se uma endoscopia esteve entre os exames feitos pelo atacante. O técnico Carlos Alberto Parreira não confirmou nem desmentiu o procedimento.

Na manhã desta quinta, Ronaldo, acompanhado por Cafu e por membros da comissão técnica -inclusive Parreira-, realizou exercícios na academia localizada ao lado do hotel da seleção, em Königstein. "Hoje de manhã já teve um trabalho bom de bicicleta ergométrica e musculação. Hoje à tarde vou treinar. Já estou pronto para o jogo. Só penso no jogo", revelou o atacante.

Ronaldo disse também que tomou remédios -sem especificar quais- ontem, apenas. "Hoje não tomei nenhum remédio. Procuramos nos cercar de toda informação que pudéssemos para assegurar que não tinha nada de grave, nada que pudesse me incomodar. E hoje me sinto bem melhor".

Falando do jogo contra a Croácia, em que recebeu apenas 14 bolas -menor número entre os brasileiros-, o artilheiro da Copa de 2002 reconheceu que não foi bem. Mas não por problemas médicos. "Não senti nada antes ou durante o jogo contra a Croácia. Tenho a consciência que não foi uma atuação de que eu gostaria de ter tido numa estréia de Copa do Mundo, mas o mais importante foi que a gente ganhou o jogo. Sabemos que a expectativa é sempre enorme em cima de mim, do que faço, de como eu jogo. Então, espero que no próximo jogo eu esteja melhor, jogue melhor. Para mim, principalmente para mim".

Questionado sobre os motivos de seu rendimento abaixo do esperado, o atacante desconversou. "Não está escrito no meu manual que eu tenho que jogar bem sempre. Não está escrito".

Ronaldo revelou, também, que aceitaria ser reserva de Robinho, que entrou bem no segundo tempo do jogo de estréia da seleção. "Sempre aceitei tudo. Não sou nenhum jogador rebelde, não sou revoltado".

A tontura é mais um problema enfrentado pelo jogador do Real Madrid na Alemanha, após as polêmicas sobre seu peso, as bolhas que o tiraram no intervalo do amistoso com a Nova Zelândia e a febre poucos dias antes da estréia.

Para o atacante, no entanto, a reincidência desses problemas físicos não está ligada ao seu emocional. "Não me sinto pressionado além do que é normal para uma Copa do Mundo, não estou sendo influenciado."

Antes da estréia na Copa, ele afirmou que não teria condições físicas para suportar os 90 minutos da partida, já que estava sem jogar desde abril no Real por causa de um problema muscular.

Mas o desempenho de Ronaldo no primeiro jogo do Mundial foi decepcionante. Ele ficou preso na marcação, mostrou pouca movimentação e, efetivamente, pouco participou da partida. O "Fenômeno" foi substituído aos 24min da segunda etapa por Robinho e chegou a ser vaiado ao deixar o gramado.

Friday, March 25, 2005

Sílvio Lancellotti

"Em outro parêntese, eu me recordo do Caso Maradona, na Copa de 1994 - punido porque tomara um remédio para emagrecer, com Efedrina. Na época, defendi Maradona (tome conhecimento do texto que redigi, a respeito, no meu livro 'Almanaque da Copa do Mundo', Editora L&PM). Trata-se de uma história muito complexa para explicá-la, neste espaço. Eu não nego que o Diego fosse viciado em maconha e em cocaína. Mas, naquele caso, naquele momento, o pegaram com Efedrina - uma substância que se ministrava a cavalos de corrida, na década de 40, de efeitos brevíssimos. Como disse, a mim, o próprio Vincenzo Pincolini, preparador físico da 'Azzurra', na Copa de 94: "Hoje, punir um futebolista por Efedrina me faz rir. Se o Maradona, digamos, se dopou com Efedrina, teria dormido em plena partida".

Pois é, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. No meu livro eu reconstruo mais de um ano no cotidiano do Maradona. Inclusive revelo que a Federação Argentina e a FIFA sabiam que o Maradona tomava o tal remédio para emagrecer - a ele sugerido por enviados de um patrocinador da Copa. À falta de estrelas, os organizadores da COPA pagaram uma dinheirama ao Diego para que ele reentrasse em forma e disputasse a competição. Depois, por razões de bastidores, o entregaram aos leões. Ou seja, quando eu tenho a INFORMAÇÃO, não deixo de divulgá-la. A FIFA e a Federação da Argentina me transformaram em 'persona-non-grata'. Não me escondi, porém.

Como não me escondi ao divulgar que o Ronaldinho Fenômeno, naquela vigília da decisão contra a França, na Copa de 98, sofreu uma crise de Síndrome de Pânico, condição que o acompanha desde menininho, quando o irmão mais velho o obrigava a ver filmes de terror. O Ronaldinho fechou a cara. Mas, até hoje, não me desmentiu. Como também não me desmentiram a FIFA e a Federação Argentina, por causa do Episódio Maradona."

Friday, March 04, 2005

And the rest is silence (ii)

O cineasta Fernando Meirelles recusou convite para produzir um filme sobre Ronaldo 98. O projeto teria como clímax a final da Copa de 98, e o técnico Zagallo e o ex-médico da seleção Lídio Toledo, como vilões.

O convite, feito em outubro por um empresário ligado a Ronaldo, foi descartado em janeiro após Meirelles ouvir advogados. O parecer deles -- um alto risco de que Zagallo e Toledo fossem à Justiça contra o filme --, somado a discordâncias com os empresários do atleta o fizeram desistir.

"O problema é que a história que a gente ia contar envolve muita gente de verdade. E o Zagallo e o Lídio Toledo seriam os vilões", disse o diretor.

O filme seria produzido por Meirelles e dirigido por Nando Olival. O cineasta afirma que o empresário Fabiano Farah -- que cuida da R9, marca do jogador -- foi quem procurou os dois diretores. O plano original era mesclar documentário e drama, segundo Meirelles, inspirados na vida de Ronaldo, desde a infância.
(...)
A suposta vilania de Zagallo e Toledo entraria no episódio da final da Copa. "Eles erraram mesmo e jogaram a culpa no Ronaldo, desestabilizaram a equipe", afirmou o diretor. Segundo ele, Ronaldo não teve uma convulsão, mas um ataque de "terror noturno", e a forma como Toledo e Zagallo conduziram o caso -- levando o jogador para fazer uma tomografia antes da partida e mudando a escalação do time -- afetou a todos os atletas.

Meirelles afirmou que sua intenção era contar a "fantástica história da vida de Ronaldo", incluindo momentos ruins do atleta, e que percebeu em conversas com Farah que haveria resistência a exibir esses aspectos negativos.

O assessor de imprensa de Ronaldo na Espanha, o jornalista David Espinar, confirmou que Fabiano Farah, diretor-comercial da R9, fez contato com Meirelles para a produção do filme, mas disse não saber a razão da recusa.
(...)
Procurado, Zagallo afirmou que não iria comentar o caso. "Não tenho o que falar, não quero entrar em polêmica". Toledo também não quis comentar o assunto e se limitou a dizer que não houve nenhum problema: "Não houve nada, isso é conversa [referindo-se a ser vilão do episódio da final da Copa de 1998]".

Tuesday, June 03, 2003

And the rest is silence

Ronaldo não irá comentar a prisão de seus empresários Reinaldo Pitta e Alexandre Martins, acusados de envolvimento com o esquema de corrupção que envolve fiscais e auditores do RJ. "Não teve nada a ver com futebol e eles são empresários de outros 110 jogadores", informou a sua assessoria.

Wednesday, November 20, 2002

Ronaldo: o segundo Dia D

"Fiquei com muito medo de dormir depois de comer. Muito, muito medo. Fui procurar alguém para conversar e me distrair. Mas não encontrei ninguém. Estavam todos dormindo. Fui atrás do Dida, que também dormia. Dida é meu melhor amigo, então eu o acordei, e ele passou toda a tarde conversando comigo sobre bobagens (...) lembro que, depois de comer, poucas horas antes da final de Paris, fui dormir. Quando acordei, me senti doente. Por isso é que desta vez estava com muito medo de dormir depois de comer."

Friday, July 05, 2002

Rivaldo, Runco: Voltaren

Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo precisaram tomar ao menos uma injeção do analgésico e antiinflamatório Voltaren para aguentarem retornar ao campo em 2002.

No caso de Ronaldo e de Roberto Carlos, no intervalo da partida contra a Inglaterra, pelas quartas-de-final, por causa de dores na coxa e panturrilha esquerdas respectivamente.

Para o caso de Rivaldo, há relatos diferentes. No do meia-atacante, a aplicação de Voltaren para aliviar as dores no tornozelo esquerdo teria sido no intervalo dos 2 a 0 sobre a Alemanha, na final. Já o médico da seleção José Luís Runco disse que foi na semifinal.

Rivaldo também definiu o que houve como uma infiltração, o que Runco rejeitou, por se tratar de um analgésico e pelo local da aplicação no jogador -- as nádegas -- não ser o mesmo da lesão. O médico afirmou que o procedimento é normal para combater problemas do gênero: "A gente dá mesmo [injeção], quando há algum traumatismo (...) todo mundo toma analgésico quando tem dores."

No caso da lesão de Rivaldo, o problema persiste. Ele pretende iniciar na próxima semana um tratamento em seu tornozelo.

Saturday, June 29, 2002

Belleti e Roberto Carlos: não morre de véspera

"Ele já superou tudo aquilo que aconteceu de ruim em sua carreira. Está tranquilo e em ótima fase. Nós até ficamos fazendo brincadeiras sobre quem vai dormir com ele na noite anterior ao jogo, quem vai tomar conta dele." (Belletti)

"Nunca mais quero passar por uma experiência como aquela. Se neste ano tivéssemos que dividir quartos novamente, eu não ficaria com ele" (Roberto Carlos ;)

"Quando penso naquele Mundial tudo parece tão longe... É passado, ficou para trás. Acho que eu nem me lembro de 98", disse o lateral." (Roberto Carlos)

Monday, June 10, 2002

Dunga: discussão com Bebeto?

"Sempre me perguntam sobre aquela discussão com Bebeto, no jogo contra o Marrocos, na Copa de 1998, na França. As câmeras de TV captaram as imagens e a discussão tornou-se pública. Aconteceu o seguinte. Havia uma falta que iria ser cobrada pelos marroquinos na frente da nossa área. Preocupado com a possibilidade de o jogador adversário cobrar a infração enquanto formávamos a barreira, pedi a Bebeto para se colocar diante da bola. Ele estava se encaminhando, mas muito lentamente. Então tive de dar uma bronca para ele acelerar o passo. Mas, é bom salientar, não gritei com a pessoa do Bebeto, e sim com o jogador que deveria cumprir determinada função. Poderia ser outro, e reagiria da mesma forma. Todos estão ali em busca do título. Para alcançá-lo é preciso cumplicidade - e personalidade. Cafu a tem de sobra."

Wednesday, April 17, 2002

Ricardo Teixeira

"Foram me chamar à tarde, dizendo que o Ronaldo tinha tido um piripaque, que estava mal. Fui para o local da concentração e dei de cara com ele, com um Gatorade sabor laranja na mão, dizendo que estava tudo bem. Depois, fui para o estádio."

"Eu me lembro nitidamente, como se fosse hoje. Quando desci das tribunas e entrei no vestiário vi o Ronaldo sentado, já de meia e chuteira, só de sunga, com calção na canela. Perguntei como ele estava. Ele disse: 'vou arrebentar presidente'. Aí fui para uma sala ao lado, onde estavam o Zagallo, o Lídio Toledo e o Fábio Koff."

O trio informou ao dirigente que Ronaldo iria jogar, mas que a escalação já havia sido entregue à Fifa com o nome de Edmundo. "Fui até o gramado e consegui mudar."

Friday, January 25, 2002

Ricardo Teixeira: xilocaína, não

Um assessor ligado a Ricardo Teixeira diz que o presidente da CBF nem de longe acredita na hipótese de que Ronaldo tivesse sido vítima de uma infiltração desastrosa de xilocaína antes da final da Copa de 1998.

"Ronaldo praticamente não ficou sozinho naquele dia; seu colega de quarto era Roberto Carlos, um 'falastrão'; o vizinho de quarto era Edmundo, um 'agitador'; portanto, se tivesse ocorrido, a infiltração teria sido percebida por alguém (...) A França jogou melhor, pronto."

Monday, January 14, 2002

Ronaldo e Lídio Toledo: xilocaína, não

Jorge Kajuru revela uma nova versão para a convulsão: Ronaldo teria se submetido a uma infiltração mal aplicada de xilocaína no joelho -- dada pelo doutor Lídio Toledo, médico da Seleção naquela Copa --, que atingiu sua circulação sangüínea, causando descontrole do sistema neurológico. Na reportagem, afirma-se que Ronaldo teria sofrido oito infiltrações ao longo do Mundial.

"O Ronaldo pediu que eu transmitisse que ele nunca tomou infiltração, por ser sabedor que isso é prejudicial à sua carreira" (Rodrigo Paiva, assessor de Ronaldo)

"Isso nunca ocorreu. Se o Ronaldo tivesse se submetido a isso corria o risco de cair no exame antidoping, pois a substância é dopante." (Lídio Toledo)

Saturday, April 07, 2001

CPI: exames

Segundo os diretores da coordenação de emergência da Câmara, o material médico entregue sobre Ronaldo não pode ser levado em conta porque é manuscrito, não possui identificação do paciente e tem um "claro comprometimento técnico pela qualidade do eletrocardiograma" (que também não contém referência a Ronaldo), "tampouco as condições, data, hora e local do exame realizado."

Wednesday, January 17, 2001

Aldo Rebelo e Assessores de Ronaldo

Para assessores de Ronaldo, quanto mais os integrantes da CPI da CBF/Nike abrem a boca, mais fortalecida fica a posição do atacante. Eles não entenderam a posição de Aldo Rebelo, publicada pelo jornal "O Dia", estranhando o contrato vitalício do atleta com a Nike. E também desmentiram declaração de Rebelo, presidente da comissão, sobre o depoimento reservado à CPI.

O deputado deu a entender que Ronaldo, a portas fechadas, admitiu ter tomado remédio na final da Copa-98. No depoimento aberto, o atacante negou o fato. A assessoria do atleta mantém a versão do jogador de que, a portas fechadas, os deputados teriam se limitado a pedir autógrafos para parentes e nada perguntaram sobre medicamentos.

Wednesday, January 10, 2001

Ronaldo -- na CPI

"A testemunha tem direito a um copo d'água? Só vocês têm água"

Questionado sobre quando o técnico Zagallo teria sabido do mal-estar: "Naquele momento, havia coisa mais importante para saber do que se o Zagallo foi ou não foi me ver."

Confrontado com opiniões médicas a respeito de seu estado clínico: "Não acho sério nem ético um médico se intrometer na área de um colega."

Depois de ouvir um discurso de Eduardo Campos (PSB) sobre o objetivo da CPI em buscar a verdade: "Espero que a minha verdade os satisfaça". E teve mais um atrito com Campos quando o deputado começou a fazer uma pergunta antes que ele tivesse terminado uma resposta. "Qual é o meu direito? Quando eu posso falar? Eu ainda estava falando (...) Quase todos os deputados deram sermão no Zagallo porque ele interrompeu (perguntas dos deputados)."

Mais tarde sugeriu a outro parlamentar que deixasse de lado o "fanatismo" ao analisar a Copa de 98. Questionado sobre se investia mais no Brasil ou no exterior, Ronaldo não só não respondeu como sugeriu que investigações como a da CPI intimidam a ação de investidores no país.

- Quem era o responsável pela marcação de Zidane?
"Isso vai ajudar muito a CPI?"

Friday, December 01, 2000

Américo Faria e Fábio Koff -- na CPI

O supervisor da seleção brasileira na Copa da França, Américo Faria, admitiu à CPI da Câmara que um funcionário da Nike esteve com os jogadores e a comissão técnica durante o Mundial.

Faria disse que a atuação do então gerente de marketing da Nike, Luís Alexandre Rodrigues, na concentração da delegação restringiu-se a resolução de problemas com o material esportivo. Ao contrário de Zagallo, afirmou ter conhecimento de que parte dos jogos amistosos da seleção era acertada devido ao contrato de patrocínio da CBF com a Nike. Mas, assim como Fábio Koff, negou que um treino da seleção tenha sido cancelado devido a uma festa da Nike.

Além disso, o diretor de futebol do Palmeiras e o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, creditaram a um funcionário da Fifa a responsabilidade pelo documento que atestava as condições físicas do jogador Ronaldo na final da Copa. Koff relatou que cerca de cinco minutos antes da partida um funcionário da Fifa o procurou dizendo que a delegação francesa estava reclamando da alteração e queria explicações para a troca no time titular.

O funcionário, segundo Koff, lhe entregou o documento já escrito. "Eu assinei e assinaria de novo hoje. O documento era meramente formal", afirmou. Faria, que depôs na CPI logo após Koff, disse que "o papel com a justificativa" foi entregue por um "representante" da Fifa.

Friday, November 24, 2000

Edmundo -- na CPI

Questionado sobre o aviso a Zagallo: "Não ocorreu mais do que dez ou 15 minutos depois do fato (...) mais que isso, impossível."

Edmundo disse não lembrar quem avisou o técnico, mas afirmou que pessoalmente bateu à janela de muitos quartos do hotel onde Zagallo e outros dirigentes da equipe técnica da seleção estavam hospedados na França.

Apesar de reforçar suspeitas de deputados sobre as relações entre a Nike e a CBF -- um treino teria sido cancelado para uma festa da empresa, e um representante acompanhava os jogadores --, Edmundo negou ter dito logo depois da final da Copa da França que a empresa foi responsável pela escalação de Ronaldo para o jogo.

Wednesday, November 22, 2000

Zagallo, Lídio Toledo e Joaquim da Matta -- na CPI

Zagallo e os médicos Lídio Toledo e Joaquim da Matta prestaram depoimento em separado.

Zagallo, que falou primeiro, disse que estava em seu quarto quando Ronaldo teve a convulsão, que não foi avisado e que só soube do episódio depois de três horas. Toledo disse que informou o técnico sobre o problema de Ronaldo "quase de imediato" -- após 40 minutos.

Zagallo disse ter ouvido de seu quarto uma "gritaria". Toledo afirmou que o quarto do técnico era "bastante longe" de onde ocorreu o problema. "Ele não ouviu barulho."

Zagallo declarou que os médicos não liberaram Ronaldo para o jogo, mas que não o vetaram. "Se houvesse um veto, não poderia escalar." Matta, por seu lado, disse que a liberação ocorreu: "Claro que houve. Eu e o Lídio avisamos o Zagallo."

Saturday, November 18, 2000

O Contrato (iii)

Novo acerto com CBF, assinado em abril, expurgou 5 dos 14 jogos que Brasil tinha feito para a empresa.

Para a Nike, com Ronaldo vale. Sem Ronaldo, não. Amistosos da seleção há um ano, na Austrália, dos quais o atacante acabou cortado por Wanderley Luxemburgo, não serão mais remunerados pela multinacional de material esportivo. Foram expurgados, junto com outras três partidas, na revisão do contrato com a CBF, que a Folha revelou ontem.

Agendados, organizados e promovidos internacionalmente pela empresa, os jogos saíram "de graça" para a Nike. A perda, para a CBF, é de US$ 2,5 milhões.
(...)
Os jogos na Austrália colidiam com os interesses da comissão técnica de Luxemburgo, que programara, no mesmo fim-de-semana, um amistoso na Espanha. Para driblar a inconveniência, duas seleções foram convocadas. A principal seguiu para a Europa; a olímpica, para a Austrália.

À época, causou estranheza o fato de Ronaldo ter sido escolhido para seguir com os jovens, já que ele vinha atuando com os adultos.

O "presente" para a Nike foi dado pela CBF em abril, quando o contrato foi alterado. Ficou acertado que até 30 de maio deste ano a seleção tinha disputado 9 partida Nike. Na verdade, até a data acordada, o Brasil jogou 14 vezes em nome da multinacional.

Sunday, February 27, 2000

Ronaldo

- Em um curto espaço de tempo, você teve uma crise nervosa, um estiramento muscular e foi submetido a uma cirurgia. O que faz você acreditar que vai voltar a estar no topo do futebol mundial?

"A minha vontade. Quero mostrar para todos que isso acontece com qualquer jogador. A minha vontade é maior do que todos os problemas."

- Você tinha condições de jogar a Copa do Mundo da França?

"Tinha. O problema começou durante o torneio, mas ainda não estava bravo. Era uma pequena dor, não me assustava. Aquilo, a gente conseguiu controlar. Depois, fui para a Itália, onde piorou, e ficou mais difícil de jogar. Lá, eu podia ter me segurado.

- O que aconteceu no dia da final da Copa?

"Não tem nenhuma explicação fantasiosa. Senti uma coisa, que nunca havia acontecido. Mesmo assim, fui ao hospital, realizei todos os exames, que não detectaram nada de anormal. Depois, segui para o estádio e joguei (...) Os médicos da seleção foram corretos. A prova foi dada pelo próprio Conselho de Medicina, que absolveu os dois."

Tuesday, November 16, 1999

Inter Terapia

A Inter convenceu Ronaldo a fazer terapia. Desde a final da Copa-98, o time de Milão estava convencido de que o principal problema de Ronaldo era de fundo emocional. Por isso, pedira que ele consultasse um psicólogo depois do Mundial. Orientado por seus empresários, o atleta não a seguiu. Agora, o clube retomou a iniciativa, que faz parte do projeto de recuperação do jogador, e o convenceu a iniciar o tratamento psicológico. Antes mesmo de viajar para a Austrália, onde foi impedido pela Inter de disputar o amistoso de amanhã e dispensado por Wanderley Luxemburgo do de domingo, ele já fizera algumas entrevistas com o profissional. Mas só agora, de volta à Itália, teria concordado, de fato, em começar as sessões. Suzy Fleury, psicóloga da seleção, afirmou ontem estar ciente do processo, e ter enviado material sobre o atacante para o clube italiano.

Thursday, October 28, 1999

Parreira explica derrota

Em entrevista à ESPN Brasil, Carlos Alberto Parreira livra a cara de Ronaldinho e atribui a derrota da seleção na final da Copa da França à falta de gás de Dunga, Aldair e Bebeto, entre outros.

Tuesday, June 15, 1999

Clinique des Lilas

A clínica foi a única da região de Paris indicada pela Fifa e pelo Comitê Organizador da Copa para o atendimento de jogadores durante a competição. "O radioneurologista da Lilas achou que nós estávamos mentindo, porque nenhum dos exames acusou nada", relembra o doutor Joaquim. Só que cerca de 20% dos pacientes que sofreram convulsões apresentam exames com resultados absolutamente normais. "Li o relatório da clínica Lilas. Em nenhum momento está escrito que o jogador podia jogar futebol", conta o doutor Alex Caetano de Barros. "Não sabíamos dessa história de que Ronaldo não ia jogar", revela Philippe Krief, diretor da Lilas. Portanto, a pergunta "Ronaldinho pode jogar a Final?" não foi feita pelo médico brasileiro. E, se fosse, dificilmente a resposta seria dada. A responsabilidade, afinal, era de Joquim da Matta e Lídio Toledo.
(...)
Na clínica Lilas, Ronaldo começou a pressionar o doutor Joaquim. O médico ligou para Lídio: "Eles fizeram todos os exames e não encontraram nada. O Ronaldo quer jogar. Vamos ter problemas...". O jogador estava tão confiante que até prometeu aos médicos franceses marcar um gol em homenagem a eles.

Thursday, March 25, 1999

César Sampaio: marcação a Zidane

"Calmamente, o jogador [César Sampaio] disse que o nosso grande craque seria o marcador de Zidane nas cobranças de córner. Por causa da crise que sofrera minutos antes, pouparam Ronaldinho de disputar cabeçadas." (Carlos Heitor Cony)

Sunday, March 07, 1999

Ronaldo: dores na Copa

"Ronaldinho declara que desde a Copa da França joga sentindo dores no joelho. Ronaldinho admite que uma depressão recente o levou a engordar acima da conta. Ronaldinho começa a entender que foi vítima de um crime, praticado não só por quem o escalou para jogar como, também, por quem deveria protegê-lo e, ao contrário, assistiu calado ao lento extermínio a que foi submetido.
(...)
No caso de Ronaldinho, o mais espantoso é que o mundo todo acompanhou seu calvário na Copa da França e nada deteve seus algozes. À época, Alberto Helena Jr. escreveu que estranhava a pouca desenvoltura do craque e chamou atenção para o que lhe parecia óbvio: Ronaldinho estava com evidentes problemas físicos [Doutor Lídio disse, na ocasião, que ele estaria gordinho]. Ainda aqui mesmo, na Copa, relembrei a miraculosa recuperação, após cirurgia na Holanda, para que ele pudesse disputar a Olimpíada de Atlanta e alertei para o fato de que o preço estava sendo cobrado.
(...)
Ouvi, sob trato de absoluto sigilo, de um altíssimo membro da delegação brasileira na França, que os 90 minutos da partida final foram os mais angustiantes já passados por essa fonte, que até temeu pela vida de Ronaldinho.Ao que tudo indica, perigo de morrer o craque, de fato, não correu." (Juca Kfouri)

Sunday, January 31, 1999

O Contrato (ii)

Assinado na Suíça, o contrato entre a Nike e a CBF não segue as leis brasileiras. Segundo o disposto no contrato, os jogadores teriam de usar chuteiras Nike na seleção, mesmo que tivessem contrato com outras empresas. O contrato proíbe até que os atletas escondam de alguma forma a logomarca da Nike nas chuteiras que usam (...) A ilegalidade foi tão flagrante que esses dispositivos foram abandonados no primeiro amistoso de 1997. Jogadores consagrados da seleção brasileira, como o zagueiro Aldair e o volante Dunga, recusaram-se a usar o produto concorrente ao do seu patrocinador.
(...)
Esse não foi o único ponto de atrito entre atletas da seleção brasileira e a Nike. No início de junho, a menos de uma semana da estréia na Copa do Mundo da França, a equipe nacional cancelou um treinamento para comparecer à inauguração da "República do Futebol", um enorme estande da Nike no "Arch de la Défense", na periferia de Paris. Nenhuma outra seleção patrocinada pela Nike, como Nigéria e Holanda, compareceu. O capitão Dunga criticou o evento, afirmando que a seleção precisava de treinos para disputar o Mundial, cuja decisão disputou e perdeu.

O Contrato (i)

A Confederação Brasileira de Futebol cedeu parte de seu controle sobre a seleção brasileira ao assinar contrato com a Nike em 1996. Pelo instrumento, a principal equipe de futebol do mundo não pode mais escolher seus adversários apenas de acordo com o planejamento da comissão técnica.

A Folha obteve uma cópia em português do maior contrato de patrocínio da história do esporte brasileiro. Pelo item 8.4 do acordo, a Nike vai escolher o adversário do Brasil em 50 amistosos ao longo dos dez anos de parceria. A CBF só tem poder real sobre a data dos jogos, não sobre os oponentes.
(...)
Segundo o mesmo item, a seleção terá que fazer em 1999 pelo menos cinco amistosos organizados pela patrocinadora, pois no ano passado realizou apenas três (Alemanha, Athletic Bilbao e Equador). Está determinado ainda que nos jogos organizados pela Nike terão de estar presentes oito titulares.Ou seja, nos amistosos "técnicos", (diferentemente dos da Nike, que são "promocionais"), em que poderá escolher o adversário da seleção, o técnico Wanderley Luxemburgo não deverá ter em campo seus principais jogadores. Segundo regulamentação da Fifa, as seleções só podem requisitar atletas que atuam no exterior em cinco amistosos por ano.
(...)
Mais: nos amistosos da Nike, a CBF não recebe um centavo e ainda tem de pagar as diárias dos jogadores e da comissão técnica. Mas a maior ingerência da empresa está nos jogos que ela não organiza. Pelo contrato, a CBF concorda em não disputar amistosos na Europa, nos EUA, no Japão e na Coréia do Sul caso a Nike "pretenda marcar" no respectivo local um de seus amistosos daquele ano.Por exemplo, a seleção teria que deixar de enfrentar a Alemanha em fevereiro caso a Nike planejasse um amistoso contra esse país no final daquele ano.

Diferentemente do que alardeou seu presidente, Ricardo Teixeira, ao anunciar a assinatura do contrato no final de 1996, a CBF não irá receber US$ 220 milhões pelos dez anos de parceria. O total é de US$ 170 milhões mais o fornecimento de material esportivo e o pagamento de parte das despesas com transporte e hospedagem. Desses US$ 170 milhões, US$ 10 milhões foram para a Umbro, cujo contrato com a CBF foi rompido para a entrada da Nike. Para se chegar aos US$ 220 milhões citados por Teixeira, é preciso adicionar US$ 43 milhões que só serão pagos à CBF se ela renovar o contrato. E esse valor nem ao menos serve como luva para a renovação. É, isso sim, um valor mínimo que a entidade receberia por mais quatro anos de parceria.
(...)
Um dos pontos obscuros do acordo Nike-CBF é o quanto recebe a empresa de marketing esportivo Traffic, qualificada como "titular de certas marcas registradas e outros direitos de propriedade pertencentes à CBF". O texto especifica apenas que isso é assunto entre a CBF e a Traffic, cujo dono oficial é J. Hawilla e cujo sócio oculto, segundo o vice de futebol do Vasco, Eurico Miranda, seria o próprio Teixeira.

Outras cláusulas do contrato deixam a CBF com pouco poder para buscar novos patrocinadores. Se por acaso quiser arrumar um substituto para a Coca-Cola, terá de dar preferência para a Nike e, se essa recusar, terá de apresentar o novo parceiro no mínimo um ano antes do final do contrato com o patrocinador. Se um dia quiser se livrar da Nike, vai ser muito mais difícil. Primeiro, só pode começar a procurar um novo parceiro se a Nike recusar seu pedido mínimo. Segundo, isso só pode acontecer no último ano de contrato. Por último, a CBF não pode assinar com nenhum outro fornecedor por um valor que a Nike esteja disposta a pagar, mesmo que espere o final do contrato.

Sunday, October 11, 1998

Joelho pós Copa, psicoterapia, doping

Seja pelo crescimento corpóreo acelerado, pelo excesso de desenvolvimento muscular ou por esforços repetitivos em pisos duros, o fato é que a equipe médica da Inter de Milão, diferentemente do que vem declarando em público, não descarta a hipótese de operar o joelho esquerdo do brasileiro.
(...)
Caso isso aconteça, o jogador viverá drama semelhante ao enfrentado em fevereiro de 1996, quando operou joelho direito. De acordo com o PSV, a operação foi necessária porque Ronaldinho apresentava um problema comum em jovens em idade de crescimento, que fazem esforços repetitivos em pisos duros, afetando os ligamentos e provocando calcificação e fortes dores no local.
(...)
Desde 12 de julho, quando disputou a final da Copa, até hoje, Ronaldinho só disputou três jogos pela Inter -- média de um por mês --, marcando apenas um gol, de pênalti.
(...)
Se quando o assunto é joelho, familiares e amigos do jogador não negam que há problemas, quando se trata de cabeça, a reação é exatamente a oposta. (...) A sugestão da Inter, após consulta à Associação Italiana de Psicologia do Esporte, de que o jogador tivesse acompanhamento psicológico, foi prontamente recusada. (...) A família e os procuradores de Ronaldinho, Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, consideram "a história de psicóloga" um absurdo, já que a cabeça de Ronaldinho estaria, conforme as palavras de sua irmã, Ione, "melhor do que nunca".

Também se mostraram indignados com suspeitas lançadas na imprensa européia de que o brasileiro teria se dopado, durante o Mundial da França e em algumas partidas pela Inter de Milão, no primeiro semestre, para suportar as dores nos joelhos. O jornal Le Monde, em editorial publicado domingo passado, insinua que o mal súbito que Ronaldinho sofreu no dia da final da Copa e "que até hoje não recebeu explicação médica coerente" pode ter ligação com as denúncias sobre doping que assolam o futebol italiano.

Friday, October 02, 1998

Volpi e da Matta: Voltaren

A comissão que investiga possíveis casos de doping no futebol da Itália voltou a discutir ontem as causas da crise de Ronaldinho no dia da final da Copa. O procurador Raffaele Guarinello interrogou o médico da Inter de Milão, Piero Volpi.

Volpi afirmou que o atacante brasileiro, afastado dos jogos da Inter para curar problemas em seus dois joelhos, poderia ter sofrido uma overdose por uso do antiinflamatório Voltaren -- Ronaldinho usou o medicamento durante o Mundial em tratamento para dores em seu joelho esquerdo.

"Creio que os efeitos secundários produzidos pelo uso contínuo do produto, como também acredita o procurador, pode ser a causa da indisposição", afirmou Volpi.

O clínico geral da seleção brasileira na Copa do Mundo da França, Joaquim da Matta, 44, disse que o atacante Ronaldinho tomou o antiinflamatório Voltaren em dosagem mínima e que nunca viu um jogador ter uma convulsão por causa desse remédio. "Estranho que, depois desse tempo todo, se levante essa hipótese."

Segundo o médico Antônio Carlos Lopes, da Universidade Federal de São Paulo, é impossível que Ronaldinho tenha tido problemas pelo uso maciço do Voltaren: "uma reação a um medicamento acontece imediatamente após o seu uso".

Tuesday, August 11, 1998

Edmundo: Nike e Lídio

"A Nike tem força [na seleção]. Ela negociou direto com o presidente. Quer dizer, o presidente é que levou a porcentagem na negociação (...) o negócio da Nike é uma coisa verdadeira. Tem um contrato que o Ronaldo tem que jogar todos, todos os jogos, os 90 minutos." (Edmundo)

Edmundo disse, ainda, ter acompanhado a ação do médico Lídio Toledo no episódio, que teria revoltado os jogadores: "Todo mundo ficou meio puto com o Lídio, porque quando ele [Ronaldo] tava passando mal (...), o doutor Lídio só ficava assim: 'Vai passar, vai passar'."

A Nike negou: "Esse tipo de ação sugeriria uma intromissão fortíssima da Nike na CBF. A Nike não faz intromissões técnicas, seria loucura", diz a nota. Ronaldinho mantém contrato pessoal com a empresa.

Teixeira recusou comentários. "Não falo sobre hipóteses. Teria que ouvir tal fita." O dirigente disse ainda que poderia processar o jogador.

Ronaldinho ficou perplexo. "Não acredito que ele disse isso. Espero encontrá-lo para esclarecer o assunto. Precisa ter provas, se não estará falando besteira." Reinaldo Pitta, empresário do jogador, negou a existência de qualquer contrato especial.

Thursday, July 23, 1998

Edmundo: escalações / nike no dia-a-dia

"Assim que eu soube que ia jogar, perguntei o que eu iria dizer para a imprensa. Eles me disseram para esperar o final do jogo, mas que não comentasse o ataque.
(...)
Era uma decisão difícil. Ponha-se no lugar dele, o cara chega, começa a colocar as meias, trocar de roupa, diz que está bem. Ficou difícil deixá-lo de fora. O Ronaldinho jogou porque quis, porque disse que estava bem, ninguém o forçou a nada (...) Foi muito sério. Cheguei a achar que ele pudesse morrer. Umas três horas depois, quando o Ronaldinho desceu para o lanche, não entendia a razão de todo mundo olhar para ele meio estranho. É que para ele não tinha acontecido nada."
(...)
"Logo de cara, percebi que era carta fora do baralho. Por mais que me esforçasse, não tinha chances de jogar" (Edmundo)
- - - - - -
A presença da Nike no dia-a-dia da equipe durante o Mundial era "muito grande. Eles conversavam bastante com os jogadores que tinham sob contrato e com o pessoal da comissão técnica." (Edmundo)

Segundo Edmundo, a atuação da Nike, durante a campanha do Brasil na França, lembrava a da Parmalat, empresa que patrocina o Palmeiras, em relação ao clube paulista.

O lateral-direito Zé Carlos, do São Paulo, que enfrentou a Holanda pelas semifinais, confirmou que representantes da Nike chegaram a conversar com jogadores que não tinham contrato com a empresa sobre possível patrocínio pessoal.

"Nunca houve a presença de qualquer representante da Nike nas preleções. Só estavam presentes os jogadores, a comissão técnica e, às vezes, o presidente Ricardo Teixeira." (Américo Faria)

Wednesday, July 22, 1998

Suzana: pressão

A modelo Suzana Werner, noiva do atacante Ronaldinho, disse que o jornalista Pedro Bial, da TV Globo, procurou o atacante para desmentir as insinuações de que ele teria tido um caso amoroso com Suzana.

"O Ronaldo nunca se preocupou com isso. Ele sempre soube que era tudo mentira, coisa de gente invejosa (...) o que estressou o Ronaldo foram aquelas pessoas todas dizendo: 'Esse jogo é para você ganhar, você tem que ser o artilheiro'. Isso martelou muito a cabeça dele. Mas agora já está legal."

Lídio Toledo: entrevista

- O que aconteceu horas antes da final?

"Escutei o Leonardo gritando que o Ronaldinho estava passando mal. Quando cheguei no quarto, ele estava deitado, respirando fundo e com secreção salivar na boca. Limpei a saliva, vi o pulso e a respiração. Estava normal, mas os jogadores que viram o que houve ficaram abalados. Eu não. Não é verdade que eu tenha chorado. Alguns jogadores perguntaram: 'Vai morrer?' Respondi que não. Chamei o Joaquim, que é o clínico, e disse para ele que o jogador parecia ter tido uma crise convulsiva. Mais tarde, o Joaquim me telefonou no restaurante e disse: 'Está tudo bem, o Ronaldinho não se lembra de nada e só reclama de cansaço nas pernas.' Ronaldo veio tomar o lanche e perguntei como ele estava. O jogador disse que estava normal. Expliquei o quadro e ele pareceu apavorado. Falei que ele teria que fazer exames e em princípio estaria fora do time. Ele reclamou. Chamei o doutor Joaquim e pedi para ele levar Ronaldinho para fazer um exame neurológico completo. Eles foram para o hospital e três horas depois fomos para o estádio. O Joaquim telefonou dizendo que os exames não acusaram nada. Quarenta minutos depois chegaram os dois. Ronaldinho foi na rouparia, pegou chuteira, meia, sentou e já ia calçando. Eu disse: 'Peraí. Você está fora do time.' Ele respondeu: 'O senhor não acha que é uma injustiça eu treinar, jogar toda a Copa e hoje ficar de fora?' Então, conversamos eu, Zagallo, Joaquim e o jogador. Diante da opinião dos colegas especializados e do jogador, resolvi deixá-lo jogar."

- Os médicos do Internazionale criticaram o sr. por colocar em campo alguém que teve uma crise nervosa antes do jogo?

"É porque após uma crise convulsiva o sujeito fica sem iniciativa, meio torporoso. Mas o Ronaldinho não teve nada disso. Ele acordou eufórico. Aparentemente, não havia risco de uma nova convulsão."

- O sr. considera a possibilidade de epilepsia?

"Eu não sei o que causou a crise. Para isso, é preciso fazer exames detalhados. Há casos raros em que a convulsão por epilepsia acontece apenas uma vez, mas não estou afirmando que ele tenha isso."

- Há uma versão de que o problema de Ronaldo pode ter sido causado por uma possível infiltração.

"Não teve nada disso. Não faço infiltração antes do jogo. Primeiro porque é contra a ética e segundo porque infiltração com xilocaína anestésica e cortisona dá positivo no exame antidoping."

- É possível que a crise tenha sido causada pelo medicamento Voltarem. A bula diz que esse é um de seus efeitos colaterais?

"Realmente dei a ele esse antiinflamatório, uma semana antes do jogo. Mas se a gente levar as bulas ao pé da letra não se receita remédio nenhum."

Gonçalves: espumante

"Fiquei traumatizado com o que vi o Ronaldinho sofrer (...) Lembro, exatamente, do quadro terrível que vi no momento da crise, por volta das 14 horas. Ele estava espumando, se debatendo, com os olhos virados, respirando com muita dificuldade e muito pálido. Em certo momento chegou a ficar roxo. Esta crise durou cerca de dois minutos. Ele só começou a respirar normalmente em uns cinco minutos, e depois adormeceu. Só vi algo semelhante no ataque de um epiléptico. Mas não sei o que aconteceu com o jogador. Acho que o problema deve ser esclarecido, principalmente em nome da saúde dele."
(...)
"Quanto ao ambiente entre os jogadores, discordo do Edmundo. Para mim, o ambiente era bom. Discussões dentro de campo existem sempre. Mas senti que qualquer coisinha era explorada pela imprensa, como a discussão do Dunga com o Bebeto no jogo com o Marrocos."

Os exames na Clínica

Quando Ronaldo chegou, às 18h, houve um rebuliço natural no saguão de entrada. Sério, porém tranquilo e caminhando sozinho, o jogador foi levado imediatamente para a sala de ressonância magnética no primeiro andar, à esquerda do corredor principal. Tirou a camisa, foi submetido aos procedimentos básicos, teve a pressão medida e fez uma ressonância completa, da cabeça aos pés, num daqueles aparelhos futuristas de comercial de plano de saúde. Logo depois, um ecocardiograma e um eletroencefalograma. Não houve exame de sangue.
(...)
Fato curioso no episódio foi a ausência total do engenheiro Evandro Motta, incluído no grupo com a missão de motivar os jogadores. "Não falei com o Ronaldinho antes de ele entrar em campo porque, quando ele chegou da clínica, eu já estava na tribuna".

Monday, July 20, 1998

Edmundo: dia doze

- Conte com detalhes a história do dia 12.

"Tá. Mas primeiro queria dizer que sempre fiquei muito na minha, no quarto. Por isso não tenho suspeitas sobre o que aconteceu para ocasionar aquilo. Mas eu sei o que vi naquele dia. E não vou esquecer. Meu quarto e do Doriva era o 289. O quarto do Ronaldo e do Roberto, o 290. Porta com porta. Eu estava descansando e ouvi o Roberto gritar: 'Edmundo, Doriva!!! O Ronaldo está passando mal!' Corremos até lá, assustados, e vimos o Ronaldo naquele estado."

- Tremendo?

"Muito. Mas muito, muito, muito. Ele se debatia, batia perna com braço, braço com perna, a língua enrolando. Fazia um barulho estranho, de tentar respirar forte e não conseguir. Saí gritando pelo corredor, voltei com César Sampaio. Segurei o Ronaldo com toda a força e o César desenrolou a língua dele. Aí é que chegaram os médicos. Ele ficou ainda muito ofegante, por uns 15 minutos. Até que adormeceu por uma hora. Acordou perto de 17 horas e foi para o lanche, onde todo mundo já estava. Os médicos tinham nos dito para não comentarmos, pois ele não se lembraria de nada. Ninguém falou, mas os olhares arregalados estavam em cima dele. Ele não percebia porque estava desligadão. Seu comentário era esse: 'Pô, dei uma dormida e acordei com o corpo todo mole... Minhas pernas estão doendo muito. Vou dormir mais um pouco'. E levantou. Foi aí que resolveram contar tudo a ele."

- Isso marcou o dia de forma negativa...

"A concentração foi pelo ralo. E fomos para o estádio sem vê-lo. Todos preocupados, calados, se sentindo estranhos. O que vi me impressionou muito. Não só porque é uma pessoa que gosto, mas pela cena inacreditável. Hoje ainda fecho os olhos e ele está lá, na minha cabeça, tremendo. Espero que ele não se importe de eu contar isso, porque quero muito bem a ele."

- Ele quis mesmo jogar?

"Ouvi ele dizendo que queria."

- A Nike exigiu o Ronaldo em campo?

"Presenciei quando ele disse ao Zagallo: 'Vou jogar, estou bem'. Olha a situação do Zagallo! Depois, se a gente perdesse, iam reclamar do contrário: 'Por que não botou o Ronaldo', e tal... Mas, em muitos sentidos, sempre tem o dedo do patrocinador. Já participei de Seleção com a Umbro, com a Topper, e nunca vi ninguém lá dentro da Seleção. O pessoal da Nike estava lá 24 horas por dia. Como se fizesse parte da comissão. Uma força enorme, a maior que já vi. É só o que dá para dizer."

Lídio Toldedo: calmante

Lídio Toledo negou que Ronaldinho tenha participado da final da Copa do Mundo sob efeito de um calmante.

"Ele tomou meio comprimido de Valium, após o jogo (...) Essa crise faz com que a pessoa se esqueça de tudo. O Ronaldinho não se lembra de nada. Tudo o que ele sabe foi contado por nós (...) Ele admitiu que não se lembra muito bem dos fatos. Eu tive de contar tudo de novo. Disse a ele que foi o Joaquim da Matta, e não eu, quem deu o remédio depois da partida encerrada."

Sunday, July 19, 1998

Roberto Carlos: sobre o companheiro de quarto

"O Ronaldo é uma pessoa sozinha. Ele tem que se abrir mais. Se ele de repente casar com a Suzana, ou se chamar o pai e a mãe dele de lado, conversar com os pais, tenho certeza de que ele vai tirar 80% do peso das costas e vai conseguir jogar o mesmo futebol que jogou no Barcelona... e que está jogando na Inter (...) A gente ficava conversando a tarde toda no quarto, jogava pingue-pongue juntos (...) mas não sei o que o afligia, ele nunca me falou. Só falávamos de futebol, nada da vida pessoal dele. Ronaldo é uma pessoa muito calada. Se você perguntasse se o cabelo dele estava crescendo, ele dizia: 'Não sei'. Ele é muito 'eu', 'os problemas são meus, deixa eu resolver.'"

A suposta crise no namoro do atacante com a modelo Suzana Werner "foi um dos problemas... Isso incomoda. Todo mundo vendo saírem coisas no jornal sobre ela... Não vão olhar para você como uma pessoa normal."

R.C. negou declarações dadas à Folha após a final, entre elas a de que Ronaldinho teria "amarelado". Disse que nunca declarou que Ronaldinho chorou na noite anterior ao jogo e negou ter dito que o atacante estivesse tendo dificuldades para dormir.

"Ele vinha dormindo bem, sem problemas. Durante 50 dias não vi o Ronaldo mal. Só a dois dias de a gente vir embora. No dia do jogo, o jogo mais importante da competição."

Roberto Carlos contestou também que Lídio Toledo saíra chorando do quarto após atender Ronaldinho, ou que alguns jogadores pediram a Toledo que medicasse o atacante durante a crise. Negou ainda que, após o colapso, Ronaldinho não dormira e até saíra do quarto para tomar um suco. "Fiquei deitado do lado dele. Ele dormiu das 14h15 às 16h30. Eu quem o acordei. Ele só saiu para tomar um lanche, às 17h, e para ir à clínica, às 17h50."

Saturday, July 18, 1998

Dunga e Leonardo: assessoria de imprensa, divisões, stress

"Poderiam ser colocadas palavras diferentes, de modo diferente. Uma pessoa só deveria ter feito o comunicado. No princípio (antes do jogo), achei perfeita a comunicação sobre o caso, protegendo o jogador, a face humana (...)é uma coisa técnica e quem deve falar é o médico." (Dunga)

Indagado sobre os líderes dos grupos, Dunga confirmou que ele e Leonardo estavam em grupos opostos. Mas aumentou a confusão sobre quem defendia o quê. Disse que era "inicialmente" contra a escalação, enquanto Leonardo a defendia:

"Antes dos exames, falei que ele [Ronaldinho] não deveria jogar. E ficou definido que não jogaria. O Edmundo até foi escalado. Depois dos exames, ele se sentiu bem, quis jogar, então dei apoio a ele (...) hoje, acho que ele não deveria ter jogado, mas entendo a situação, de como é difícil analisar isso. Como não escalar o melhor jogador do mundo, em uma final de Copa, com ele querendo jogar? É uma situação muito difícil (...) Em vários momentos, tentei me concentrar, lembrar que disputava a final da Copa, mas existia a preocupação com o colega." (Leonardo)
- - - - -
Os dois minimizaram as divergências entre os grupos, que, segundo testemunhas ouvidas pela Folha na França, redundaram em bate-boca e correria.

"Numa família, quatro, cinco pessoas, acontece divergência. Imagine a situação com muitas pessoas, vivendo 60 dias juntas." (Dunga)
"Foi tudo muito rápido, coisa de meia hora. Não dava tempo de ficar discutindo." (Leonardo)
- - - - -
"Não disseram que foi estresse? Uma crise nervosa? Então vamos deixá-lo em paz. Estamos massacrando o Ronaldinho. Estamos massacrando o nosso futuro. Ele pode fazer a diferença nas próximas Copas." (Dunga)

O que mais irritou o capitão, segundo apurou a Folha, foi a insinuação, feita por Roberto Carlos, de que Ronaldinho havia "amarelado" diante das pressões e da responsabilidade de vencer a final. Também reprovou, em conversa com dirigentes da Federação Gaúcha de Futebol, a atitude de Bebeto, que ao chegar ao Rio comentou que havia muita coisa a ser exposta. Durante a Copa, Dunga deu uma cabeçada no atacante, numa das cenas mais inusitadas do torneio.

Friday, July 17, 1998

A Versão da Folha de S.Paulo

* Ronaldinho não teve uma convulsão. Relatos de jogadores, de funcionários do hotel e da clínica que atendeu o jogador atestam que não houve problema neurológico
* Atacante mostrou sinais de depressão e irritação desde a sexta-feira, chegando a destruir uma bicicleta contra a parede
* Ronaldinho teve uma crise nervosa. Roberto Carlos chamou outros jogadores dando gritos pela janela. Lídio Toledo entrou no quarto; quando saiu, estava chorando
* Depois de socorrido, ele não dormiu. Os jogadores queriam que o colega fosse medicado e discutiram com Toledo, que negou qualquer medicação para evitar doping
* Os jogadores deixaram a concentração em silêncio, sem as batucadas ouvidas pelos funcionários em outros dias de jogos na Copa
* No vestiário, Zico foi o único integrante da comissão técnica contrário à escalação do atleta para jogar a final; durante a reunião, a comissão tratou o caso como crise nervosa

O atacante Ronaldinho, 21, sofreu na tarde de domingo uma crise nervosa, e não um distúrbio neurológico como vinha sendo anunciado pela Confederação Brasileira de Futebol. O fato deixou a comissão técnica da seleção desesperada e provocou um racha na equipe antes do jogo decisivo da 16ª Copa do Mundo de futebol.

Nas seis horas que se seguiram, até o início da partida contra a França, o Brasil perdeu o pentacampeonato. A derrota de 3 a 0 foi uma trágica consequência de acontecimentos que misturam despreparo, irresponsabilidade, incompetência e vaidade. Ingredientes de uma novela de informação e contra-informação, em que o mal de Ronaldinho ganhou várias versões, de "contusão no tornozelo" a "convulsão de 30 segundos de causa ignorada" _nenhuma delas verdadeira.

A Folha reconstituiu o que aconteceu nas seis horas transcorridas entre a concentração do time, no Château de Grande Romaine, em Lésigny, e o vestiário do Stade de France, em Saint-Denis, local da partida.

Junto a funcionários do hotel, jogadores, assessores de imprensa, delegados da Fifa e médicos, apurou que a seleção já sabia que seu artilheiro atravessava problemas emocionais, com sinais de depressão e irritação.

Apurou que Lídio Toledo teve um acesso de choro ao ver o atacante prostrado no seu quarto, contido à força por companheiros depois do ataque de nervos. Que alguns jogadores discordaram das decisões do médico da CBF (temendo o exame antidoping, não medicou Ronaldinho), gerando um bate-boca que se estendeu até os vestiários do estádio da final. Que, pela primeira vez no Mundial, o ônibus deixou o hotel sem a batucada animada habitual dos atletas. Que, por causa do racha, a seleção não fez o aquecimento no campo. Que a comissão técnica não foi unânime ao resolver escalar o atacante contra os franceses, como também vinha sendo divulgado -- o coordenador Zico se opôs. Apurou, enfim, que a seleção brasileira, apontada como favorita ao título, com os melhores e mais bem pagos jogadores do planeta, é uma bagunça.

Lídio Toledo: novos exames, síncopes, declarações francesas

Lídio Toledo se mostrou surpreso com a intenção de Ronaldinho em não fazer novos exames: "Pra mim, isso é novo, mas ele vai fazer sim, eu vou conversar com ele."

Os novos exames, recomendados por Toledo e Joaquim da Matta, seriam feitos por um neurologista do Rio, e poderiam indicar a real causa da suposta crise.

Lídio reafirmou que não estava no quarto de Ronaldinho quando teria ocorrido o problema. Mas, baseando-se no depoimento de jogadores como Roberto Carlos, continuou sustentando que Ronaldinho teve "uma crise convulsiva de causa ignorada".

Questionado se Ronaldinho não teria sofrido apenas uma síncope (desmaio) convulsiva -- que pode ser causada por uma forte crise nervosa, apresentando sintomas semelhantes aos de uma convulsão -- Toledo respondeu: "É a mesma coisa. É uma convulsão. São sinônimos."

Mauro Brandão, presidente do Cremerj, criticou as declarações de especialistas franceses que atenderam o atacante: "Se é verdade o que eles disseram, que fizeram todos os exames e Ronaldinho não tinha nada, é um absurdo."

Ronaldo: perdão, medicamentos, joelho bom

Ronaldinho afirmou que pode ter errado ao dizer à comissão técnica que tinha condições físicas para disputar a final da Copa do Mundo. Disse que sua intenção era ajudar e pediu desculpas caso tenha atrapalhado o desempenho do time.

Voltou a dizer que está bem de saúde e que não vê necessidade de novos exames clínicos.

"Esse negócio de crise nervosa é mais uma história que estão falando. Não sei disso. Fiz todos os exames, e não tem nada disso. Agradeço a preocupação de todos, mas está tudo bem. Nós já falamos o que aconteceu, mas insistem em escrever o que acham que pode ter acontecido. Por exemplo: esse negócio de epilepsia, que é uma palhaçada. Todos os exames foram feitos, e não tem nada demais."

Reclamou que enfrenta dificuldades para descansar por estar sendo muito assediado, e disse que atualmente seu maior desejo é ter uma vida tranquila.

Negou ter feito infiltrações e afirmou que o problema dos joelhos, que o debilitou ao longo da competição, está resolvido. Confirmou, por fim, que tomou antiinflamatório e remédio contra gases durante o Mundial.

E afirmou à TV Globo que ingeriu meia pílula azul -- na sua opinião, um calmante --, receitada pelo médico Lídio Toledo. [o outro médico da seleção, Joaquim da Matta, negou que o atacante tivesse tomado o remédio]

Zagallo: três horas de separação?

Zagallo só foi informado da situação três horas depois do problema com Ronaldo, e somente três horas antes da final da Copa do Mundo, contra a França.

"Eles não queriam me expor. No momento do problema do Ronaldinho, estava no quarto assistindo a outros jogos da França no Mundial. Escutei uma gritaria, mas pensei que fosse fora da concentração."

"Como os jogadores que presenciaram a cena ficaram impressionados, talvez eles não quisessem me atrapalhar. Não achei a atitude deles errada."

"Quando desci para lanchar, o Lídio Toledo me avisou do ocorrido. O Ronaldinho já estava no hospital. A partir daí, comecei a pensar na formação do time."

Emerson

O meia Emerson, da seleção brasileira, disse ontem que a preocupação com a crise de Ronaldo era tão grande que "praticamente" ninguém defendia a escalação do jogador.

"Foi um pânico. Uma coisa é você querer, e outra é estar em condições de jogar." A frase, segundo ele, resume a opinião predominante entre os jogadores.

"Só ouvi o Edmundo aos gritos, berrando no hotel. Abri a janela, chamei o Dunga (companheiro de quarto), e fomos ver o que acontecia." Segundo o jogador, ninguém falava em convulsão naquele momento, e alguns colegas lembravam que Ronaldo andava muito inquieto, devido ao estresse acumulado durante a temporada.

"Vi o estado do Edmundo, ouvi os gritos do Edmundo e imaginei que poderia ser algo muito pior. Corremos para o quarto do Ronaldinho, mas o Dunga, que sabe liderar até nesses momentos, foi logo afastando todos nós para diminuir o tumulto."

Quando o jogador foi levado para fazer exames em Paris, Emerson lembra que o ambiente na concentração parecia o de um velório: "Só se pensava em algo pior. Ninguém dormiu mais. Aí, começamos a perder a Copa. Não houve tranquilidade nem para os reservas".

A hipótese de convulsão, pelo que lembra Emerson, só começou circular entre os jogadores depois que César Sampaio contou aos colegas ter segurado a língua de Ronaldo: "Para todos nós, tinha acontecido uma coisa inexplicável. Uns diziam que era nervosismo, outros diziam que era um troço estranho, só sei que abalou todo mundo."

Emerson confirma a versão de que Leonardo liderou o bloco que defendia a entrada de Ronaldinho: "O Léo deu toda a força desse mundo para o Ronaldinho, do começo do tumulto até a hora do aquecimento (...) Se fosse comigo, eu também jogaria, mas a preocupação com a saúde foi grande. A gente ficava pensando que poderia ocorrer alguma coisa a qualquer momento."

Thursday, July 16, 1998

Testemunhas do racha

Segundo pessoas presentes, os jogadores discutiram a escalação ou não de Ronaldo. Testemunhas afirmam que Leonardo liderou o grupo a favor da escalação e Dunga, aqueles que eram contra. Outros dizem que a posição desses dois jogadores era exatamente a contrária.
(...)
Segundo depoimentos, Leonardo exigiu que o médico Lídio Toledo desse algum remédio para o atacante. O meia estaria chocado, como a maioria dos jogadores. Com receio do exame antidoping, Toledo não queria administrar nenhum medicamento, enquanto Leonardo teria ponderado que era preferível tratar o companheiro do que ver ele jogando. Dunga, outro líder da equipe, que fizera um pacto com Leonardo para manter o time unido na competição, acabou entrando na discussão, afirmando que Ronaldinho deveria jogar.
(...)
Faltando apenas meia hora para a partida começar, a notícia chegou aos jogadores, que faziam aquecimento no vestiário. O ambiente voltou a ficar carregado, com outra discussão sobre se valia a pena Ronaldinho jogar. De novo, a confusão sobre o papel de Leonardo e Dunga aparece.

Preterido, Edmundo começou a falar palavrões para si mesmo. Dado o que acontecia, o aquecimento no campo foi cancelado. Bebeto e Rivaldo também entraram na discussão, defendendo a presença do atacante reserva. Bebeto acabou acusado de estar com medo de ser campeão, porque Ronaldinho poderia levar todo o crédito.

Philippe Krief

"Ele passou mal, é certo. Mas, se fosse algo catastrófico, vocês não o teriam visto em campo", disse Philippe Krief, diretor-geral da Clínica De Lillas, onde Ronaldo esteve das 18h às 19h40 de domingo.

Krief disse ainda que o artilheiro chegou "relaxado" à clínica, acompanhado de Joaquim da Matta e dois seguranças. Deixou o carro "caminhando normalmente". Tirou fotografias com fãs, distribuiu autógrafos e até assinou uma camisa da equipe da França. Vestia calção, camiseta e boné, e não apresentava sinais de palidez nem estava com o rosto avermelhado.

Entre os exames, o jogador da Inter de Milão chegou mesmo a assistir, pelo aparelho de TV da clínica, ao início da cobertura da final, quando Edmundo era anunciado como titular. Ao deixar o local, disse Krief, o atacante estava "relaxado e sorridente".

A calma não foi compartilhada pela comissão técnica. Segundo o radiologista Bernard Roger, o telefone celular do médico da CBF não parou de tocar durante o período em que os brasileiros estiveram na clínica.

"Paradoxalmente, Romário (que fez exames na mesma clínica antes de ser cortado) estava mais nervoso do que Ronaldinho no último domingo', afirmou Roger. Para ele, o estresse de Ronaldinho deveria ser maior porque ele fez os exames horas da final, e Romário, antes do início da Copa."

Lídio Toledo: distonia neurovegetativa? / veto!

Questionado ontem à noite, Lídio Toledo disse que o jogador pode ter tido também uma "distonia neurovegetativa", que pode ser provocada por estresse.

A distonia neurovegetativa pode ser originada por um quadro agudo de ansiedade, que provoca alterações no comportamento. Pode haver agitação, sudorese, palpitações, taquicardia e até contração involuntária dos músculos. No entanto, não há hipótese de convulsão e só em casos extremos há perda da consciência.
(...)
Toledo negou que dias antes da final o jogador tivesse se isolado do grupo. Questionado se Ronaldinho não teria jogado uma bicicleta contra a parede, ele riu: "Que isso, que mentira é essa?"

O médico negou que, ao ver o estado do atacante, tenha chorado: "Tô acostumado com isso. Trabalhei 40 anos no pronto-socorro." E disse que, após a crise de Ronaldinho, foi contra a sua escalação. "Eu disse para o Zagallo: 'Olha, escala outro porque esse rapaz está fora'."

Dunga: com opinião

"A verdade é que não respeitaram a saúde do Ronaldinho. Naquele momento, tinham de pensar no lado humano. Chegamos a temer que Ronaldinho viesse a cair em campo a qualquer momento."

"Quando soubemos que ele iria jogar, entramos tensos em campo."

"Se eu gritasse com os companheiros, poderia ser pior para o Ronaldinho. Além do mais, os jogadores restantes estavam abalados emocionalmente. Os meus gritos não adiantariam nada."

Zagallo: escalação e stress

"Se ele não entrasse, iriam falar também. Tem que ter peito para falar na hora. A decisão foi minha. Eu faria tudo de novo."

"Não foi a Nike, não foi o dr. Ricardo Teixeira, não foi o Lídio Toledo. O responsável pela escalação do Ronaldinho fui eu, Mario Jorge Lobo Zagallo. Se agi errado ou certo, me julguem."

"Depois de ficar sabendo que os exames não detectaram nada de anormal, o Ronaldinho chegou ao vestiário. Todos os integrantes da comissão técnica, inclusive o presidente, estavam reunidos em um local do vestiário. Perguntei ao Ronaldinho se ele queria jogar. Ele disse que sim e estava confiante. A partir daí, entrei em ação. Mandei ele trocar de roupa. Ninguém se opôs, e ele jogou. Mas não tenham dúvidas de que ninguém da seleção o colocaria no jogo se estivesse correndo risco de vida."

"Não é verdade que o jogador sofreu uma infiltração no joelho ou tenha passado mal no sábado à noite (...) Ele é muito assediado. O Ronaldinho não tem privacidade. O rapaz mora sozinho na Europa, com os familiares no Brasil, é muito difícil ter força para superar toda a pressão sozinho. Na Copa, todos se estressam muito. Ele, talvez, não tenha suportado."

Zico

- Você esteve com Ronaldinho antes da crise? Como foi o dia da decisão?

"Não o vi pela manhã. Eu fiquei lá na sala de almoço até quase umas 15h30 ou 16h. Quando voltei para o meu quarto fui informado do que tinha ocorrido. O pessoal não queria 'dar mais alarde', não quis que a coisa se alastrasse para os que ainda não estavam sabendo. Queriam antes ver como o Ronaldinho ia se comportar. No lanche, ele estava apenas um pouquinho mole. Não sabia o que tinha acontecido e lanchou normalmente. Nós fizemos a reunião e foi aí que o Lídio nos disse que ia tomar todas as providências, fazer os exames. Ele foi para o hospital e nós, para o estádio. E foi aí que o Zagallo definiu a substituição pelo Edmundo. Só que, no estádio, veio a informação de que os exames tinham dado negativo. Quando o Ronaldinho chegou, fui chamado para uma reunião em que se informou que ele estava bem, que queria jogar e que o Lídio tinha liberado. E foi aí que o Zagallo liberou."

- Foi correto? Por que Zagallo o escalou?

"Porque houve a liberação do departamento médico. Ele teve problemas, mas fez todos os exames, que não deram nada. Lídio garantiu que o Ronaldinho estava em condições de jogo e o liberou. Portanto, Zagallo escalou."

- Ronaldinho quis jogar?

"Ele quis jogar. Fez todo o aquecimento normalmente junto com os outros jogadores. Mas é aquele negócio: jogador sempre vai querer jogar uma final de Copa do Mundo. Mas a gente notou claramente que dentro do campo ele não tinha a menor condição..."

- Então por que não foi substituído?

"É muito difícil tomar a decisão -- e acredito que até passou pela cabeça do Zagallo -- de tirar um jogador da importância dele numa final. Mas ficou claro que ele não estava bem e que, mesmo sendo o melhor jogador do mundo, quando a gente não está 100% não consegue realizar nada dentro do campo. Ficou uma lição muito grande para todos de que, principalmente numa Copa, você tem que estar 100%."

- O problema de um só jogador provocou todo o colapso na equipe?

"É claro. É muito duro ver um companheiro -- ainda mais sendo quem foi -- nessa situação. Nós tivemos jogadores que estavam muito emocionados."

- Quem ficou mais abalado?

"Os que viram, o Leonardo... A seleção não se encontrou em campo e eu acho que tem relação direta com o episódio."

César Sampaio: língua enrolada?

César Sampaio afirmou que a língua de Ronaldo não estava enrolada quando chegou ao quarto do atacante: "Ele estava com dificuldade para respirar. Eu abri a boca dele e segurei a língua por precaução."

Sampaio disse que ouviu Edmundo gritar e foi ao quarto de Ronaldinho, aonde chegou junto com Júnior Baiano e Zé Roberto. No quarto, já estariam Ronaldo, Roberto Carlos e Doriva. Segundo Sampaio, Ronaldo estava "atrofiado" na cama.

Logo depois teriam chegado os médicos da seleção, chamados por Edmundo. "Eles falaram: 'Sai todo mundo, sai todo mundo'", afirmou Sampaio, segundo o qual, à exceção de Ronaldinho, "ninguém dormiu mais" depois do ocorrido.

Wednesday, July 15, 1998

Lídio Toledo: exames e língua enrolada

"Fizemos todos os exames necessários. Tomografia computadorizada, ressonância magnética, eletrocardiograma e eletroencefalograma. Nada foi constatado."

"Ele chegou a enrolar a língua no início e se debateu um pouco. Como estava deitado, não sofreu maiores consequências."

À Casa Tornam (César Sampaio, da Matta, Lídio, Cafu)

A seleção brasileira voltou ontem ao Brasil, desembarcou em Brasília às 7h15 e foi recebida por 50 mil pessoas, segundo a Polícia Militar.
(...)
Ao subir no avião que levaria a delegação ao Rio, o atacante voltou a cambalear e subiu vagarosamente a escada da aeronave. Sua maleta foi carregada por Leonardo, que seguia atrás e muito próximo do atacante.

Na chegada à Brasília, o meia César Sampaio chegou a dizer que Ronaldo ainda estava sob efeito de medicamentos que tomou na França. Segundo ele, o atacante tomou os remédios após o jogo.

Sampaio foi desmentido pelo médico da seleção brasileira Joaquim da Matta, que negou que Ronaldo esteja tomando remédios por causa da suposta convulsão que teve na França. Segundo ele, o atacante vem ingerindo apenas vitaminas. "Ele não está tomando remédios. Estão fazendo uma onde grande sobre essa história."
(...)
Da Matta disse que Ronaldo fará no Rio outra série de exames complementares, para se tentar descobrir o que causou a sua crise convulsiva. "Pode ser uma crise convulsiva e não ser epilepsia. Ele não tem um histórico familiar de epilepsia."

O médico da seleção, Lídio Toledo, negou que Ronaldinho tenha sido forçado a jogar: . "Nenhum jogador do mundo é obrigado a participar de uma partida. Só joga se tiver boas condições e se sentir-se bem para jogar."

O lateral Cafu afirmou que Ronaldo "estava normal" durante o vôo. "Ele brincou, conversou durante todo o tempo. Em nenhum momento demonstrou estar com problemas." Carla Pavarini, namorada de Denílson, também disse que o comportamento de Ronaldo foi tranquilo na viagem: "Não tinha nada de anormal. Ronaldinho estava conversando com todos. Eles estavam muito bem, alegres, brincando o tempo todo. Pensei que seria um vôo triste, mas não foi."

Carlos Germano e Bebeto

Ronaldo chegou ao Stade de France somente 50 minutos antes do início da partida, e teve uma conversa com Zagallo, presenciada por representantes da Fifa. O técnico perguntou: "Como você está se sentindo?". Ronaldo respondeu: "Estou inteiro". E Zagallo decidiu: "Então, vai jogar".

No desembarque no Rio, o goleiro Carlos Germano e o atacante Bebeto confirmaram que Ronaldo afirmou, na frente de todos, que estava disposto a jogar.

Dunga: sem opinião

"Ninguém foi contra ou a favor. Foi passado para nós que ele havia tido uma convulsão, e os exames feitos não constataram nada. Ele queria jogar, se sentia bem e todo mundo quer que o Ronaldinho jogue na seleção."

"Seria antiético influir na escalação de um companheiro. Temos de acatar o que foi decidido pela comissão técnica e pelo jogador após uma reunião entre eles. Imagina o Brasil jogar sem o Ronaldinho e perder? O que estariam falando hoje?"

Roberto Carlos: chororô

Reportagem do diário inglês The Mirror traz entrevista com Roberto Carlos, em que ele diz que Ronaldinho não estava em condições de jogar a final. O lateral do Real Madrid disse que o atacante teve "uma crise de choro" e que não "aguentou a pressão" de ter de vencer a final.

Tuesday, July 14, 1998

Ronaldo

"Não lembro nada do momento, mas meus companheiros disseram que foi algo preocupante. Fiquei preocupado. Espero não ter isso nunca mais."

"Foi repentino. Estava falando com o Roberto Carlos. Ele virou para o lado e disse que iria dormir. De repente, deu a crise. Foi rápido."

"Não estava nervoso, absolutamente. Fiquei muito chateado com as coisas que saíram na imprensa. Já joguei muitas decisões. Essa era a que eu mais esperava. Não iria amarelar. A única coisa que aconteceu foi a indisposição. Não fiquei com medo de jogar contra a França."

"Eu entrei com vontade de jogar. Mas o jogo estava muito difícil, eles estavam bem posicionados. Não foi uma grande partida da seleção. O importante é seguir o caminho e levantar a cabeça."

"Claro que eu passei uma preocupação para os meus companheiros. Mas deu para ver que eu sou querido dentro do grupo. Agora vamos esquecer tudo. Isso não vai marcar a minha vida. Vou levantar a minha cabeça."

Lídio Toledo: convulsão etc.

"Após o almoço, ele sofreu uma convulsão que durou cerca de 30 segundos. Depois de atendido, ele dormiu e acordou se sentindo bem. Mesmo assim, exigi que ele fosse examinado em uma clínica em Paris, onde vários exames foram feitos. Como nada foi constatado, ele foi liberado para jogar."

Toledo negou que Ronaldo estivesse tomando qualquer medicamento ou que passasse por algum tipo de tratamento. Porém o jogador admitiu que estava tomando remédios para combater dores até a última sexta-feira.

"A mais provável hipótese da causa é estresse. Ele é um jogador muito assediado, sob muita pressão e, de alguma forma, acabou sentindo isso no dia da decisão."

"A convulsão foi de causa ignorada. Mas, para os especialistas franceses, ela poderia ter sido provocada por estresse. Isso não é incomum. Já vi vários casos no futebol."

Toledo negou que tenha assinado laudo sobre o estado do atleta. Logo depois do início do jogo, comunicado da Fifa dizia que Ronaldinho havia ido à clínica para que seu tornozelo fosse examinado -- o esquerdo, na versão em inglês, e o direito, na versão em espanhol. O erro da Fifa foi apenas este. O laudo fornecido pela CBF, escrito à mão e em inglês, foi assinado pelo supervisor Américo Faria. E afirmava que o problema era no tornozelo. Indagado sobre o fato, Toledo mostrou espanto. Ele disse ainda que a clínica que atendeu Ronaldinho chamava-se "Jasmim". Mas apurou-se que Ronaldo foi à clínica Des Lilas, onde ninguém quis dar informações.

Roberto Carlos: a Hora H

"Estávamos vendo TV, e o som também estava ligado. Eu estava lendo uma revista, e, quando mostrei uma foto, ele não respondeu".

Conforme seu relato, Ronaldinho estava estático e suando muito. Roberto Carlos saiu do quarto e encontrou Edmundo, a quem pediu que chamasse Toledo. O atacante e Leonardo foram os primeiros a entrar no quarto.

"Há dias ele acordava cansado. Vinha dormindo mal, com dificuldade para pegar no sono".

Anatomia da divisão no escrete

O caso Ronaldinho provocou um racha na equipe brasileira nos momentos que antecederam a final contra a França.

Quando o técnico Zagallo anunciou aos jogadores que o atacante começaria jogando, apesar dos problemas físicos e emocionais pelos quais passou nas horas anteriores, iniciou-se uma discussão no vestiário brasileiro.

Um grupo, liderado pelo volante e capitão Dunga, achava que Ronaldinho não deveria atuar, ficando apenas como opção para o segundo tempo. Outro, porém, do qual fazia parte o meia Leonardo, defendia a presença do atacante, posicionando-se ao lado de Zagallo.
(...)
Para Dunga, o melhor a fazer era esquecer o caso Ronaldinho e começar logo o aquecimento, mantendo-se tudo o que havia sido definido na preleção, com a entrada de Edmundo na equipe. O grupo de Leonardo, no entanto, defendia que Zagallo sabia o que estava fazendo e que os jogadores deveriam aceitar a presença de Ronaldinho, como queria o treinador, mesmo que ele não estivesse 100% em condições.
(...)
A discussão entre os jogadores provocou uma situação parecida com a vivida pelo time antes do início do Mundial e durante a primeira fase do torneio.

No amistoso contra o Athletic de Bilbao, em 31 de maio, por exemplo, Leonardo e Edmundo tiveram áspera discussão no final do jogo, quando o atacante reclamou por não estar recebendo a bola de seus companheiros.

Dois dias depois, quando Romário foi cortado, o ambiente voltou a ficar tenso com as declarações de alguns jogadores, como Roberto Carlos, para os quais o atacante não faria falta a ninguém.

Durante a primeira fase, após a vitória contra o Marrocos, os gritos de Dunga com o atacante Bebeto voltaram a causar problemas. [Folha de S.Paulo]

Escalação e o Papel de Teixeira

Fábio Koff, chefe da delegação, e Gilmar Rinaldi, um dos espiões da seleção, confirmaram que Teixeira esteve no vestiário, mas negam que a decisão de escalar o atleta tenha sido tomada pelo presidente.

Segundo funcionários da Fifa presentes à reunião, a escalação de Ronaldinho foi decidida antes da chegada de Teixeira. Quando o atacante chegou dos exames, Zagallo perguntou: "Como você está se sentindo?". Ronaldinho respondeu: "Estou inteiro". E Zagallo disse: "Então, vai jogar".
(...)
O Comitê Organizador entrou em contato com a direção da CBF para que ela assumisse a responsabilidade pela mudança na escalação da equipe. Pressionado pelo órgão, Teixeira pediu para que Koff e Faria assinassem um documento, no qual diziam que Ronaldinho havia ido a uma clínica em Paris para tirar radiografia do tornozelo.

Segundo Faria, a CBF optou por divulgar esse documento, com informações incorretas, para evitar especulações sobre o estado emocional do jogador.

Seu Nélio

O pai de Ronaldo reclamou ontem da comissão técnica. Quando o atleta chegou ao vestiário, após ter feito exames, Zagallo teria se aproximado dele e insistido para que entrasse em campo. Segundo Nélio, Ronaldo sentiu-se pressionado e teria ficado sem graça de dizer que achava melhor não jogar, depois de tudo o que havia enfrentado nas horas que antecederam a final.

Na conversa com Ronaldo, ainda de acordo com o pai do jogador, Zagallo teria lhe dito que estava temeroso de colocar Edmundo como titular, não apenas por ter atuado muito mal contra Marrocos, mas principalmente por considerá-lo um jogador indisciplinado.

Leonardo

"Ronaldinho é pintado como um super-herói, mas tem um corpo como todos. Ele nunca iria pipocar. Ele é um cara especial, mas é humano."

"Se ganhássemos, todos estariam dizendo que a equipe se superou como aconteceu na Copa de 1962, em que Pelé se contundiu (...) falhamos: isso faz parte do show."

Zico

"Ficou provado que não adianta nada escalar um jogador sem condição. O time perdeu muito em movimentação"

"Não houve nenhuma pressão de ninguém para escalação de Ronaldinho. Foi o Zagallo quem decidiu que ele devia jogar. Ele entrou bem no vestiário, e o doutor liberou."

"A esperança de Zagallo era que Ronaldinho pudesse resolver o jogo em qualquer momento (...) de qualquer maneira, todos jogaram muito mal."

Monday, July 13, 1998

Rivaldo: detalhes no vestiário / 15 minutos

- Quando vocês souberam que o Ronaldinho estava ameaçado de não jogar? Isso acabou abalando a confiança da equipe?

Rivaldo: "Tivemos todos os detalhes só no vestiário, durante a palestra do Zagallo. O Ronaldinho não estava se sentindo bem. Mas depois de uns 15 minutos disse que poderia jogar. E entrou em campo."

- Na sua opinião, o que faltou para a equipe conseguir um bom resultado contra a França?

Rivaldo: "Tínhamos que ter tomado a iniciativa do jogo. O importante era fazer um gol no primeiro tempo para dar mais tranquilidade para o time na segunda etapa. Infelizmente acabou não dando para nós."

Lídio Toledo vs. Piero Volpi: joelho podre

O médico da Inter de Milão, Piero Volpi, afirmou ontem que irá avaliar Ronaldinho quando ele retornar para a Itália, depois do período de férias. Segundo o médico, é um absurdo dizer que o atacante precisa de uma cirurgia em seu joelho direito. Ronaldinho reclamou durante a Copa do Mundo de dores no local.

Segundo Lídio Toledo, o atacante tem instabilidade nas patelas. Esse problema foi causado por desenvolvimento muscular acelerado. Toledo recomendou reforço no local -- com exercícios de musculação -- e bolsa de gelo após os treinos.

Lídio Toledo: hipostenia

Segundo Lídio Toledo, Ronaldinho teve apenas uma tontura. "Ele passou mal, teve uma tonteira. Foi uma hipostenia." Toledo afirmou que o atacante não foi levado para um hospital para fazer exames médicos. Porém um boletim da Fifa, distribuído momentos antes do jogo, afirma que Ronaldinho foi levado para um hospital de Paris para fazer exames médicos, fato confirmado por um outro integrante da delegação brasileira.

Roberto Carlos: amarelou

Segundo Roberto Carlos, companheiro de quarto, Ronaldinho teve uma crise de choro na madrugada, chegando a desmaiar. O atacante, segundo ele, "amarelou mais do que a camisa".

Roberto Carlos disse que "a tensão do jogo fez com que ele se sentisse mal. Acho que foi emocional. Ele tem apenas 21 anos de idade, é o melhor jogador do mundo, tem contratos, sofre pressões e exigências. Uma hora isso iria acontecer. Infelizmente, aconteceu na final da Copa".

Segundo ele, Ronaldinho começou a sentir-se mal ontem de madrugada, por volta das 4h. Quando viu o estado do atacante, Roberto Carlos foi chamar o médico da seleção, Lídio Toledo. "Ele estava meio caído. Estava estranho. Era só olhar para o Ronaldo para sentir que ele não estava bem".

Coletiva de Zagallo

"Desde o início do jogo pensei que a vitória seria da França, principalmente após o 1 a 0, quando eu vi que iria chegar o 2 a 0. No segundo tempo melhoramos muito, mas a taça ficou em boas mãos".

"Eu estava torcendo para o primeiro tempo acabar. Hoje tivemos um trauma grande, por causa do Ronaldo. Não era para o Ronaldo ter jogado. Demos a escalação sem ele. Houve grande abatimento psicológico. A equipe estava presa, amarrada. Ronaldo não iria jogar. Demos a escalação sem ele. (...) Depois, ele pediu para jogar. Disse 'eu quero'. Ele estava buscando a artilharia, poderia ter uma luz durante o jogo (...) e eu não poderia deixá-lo fora: insisti porque achava que ele iria se superar.."

"Eu menti ao Ricardo (Setyon, representante da Fifa), dizendo que era estratégia para confundir, mas na verdade não era. Omiti uma situação. Foi um momento triste na nossa concentração, com a situação do Ronaldo."

- Se Ronaldo não podia entrar, por que entrou?

"Entrou porque entrou. Você quer detonar, porra... Você quer baixar o nível, quer aparecer. Eu estou baixando? Estou aqui porque sou homem, vocês devem muito a mim. Sou homem, tenho dignidade, moral. Precisa ter educação com os franceses aqui. Deixa eu falar!" A seguir, Zagallo, vermelho e com raiva, se retirou. Menos de cinco minutos depois, voltou, repetindo várias vezes a expressão "prejuízo psicológico" em referência ao caso Ronaldinho.

"Mas isso, em hipótese alguma, pode servir como desculpa para a derrota. Levamos novamente gols de bola parada, que podem acontecer em qualquer situação."

Sunday, July 12, 1998

Dossiê Ronaldo 98

O único ponto comum a toda investigação é que as personagens, sem exceção, tenham sempre algo a esconder. E que quanto mais falem, mais se evidenciem as contradições.

O JOGADOR

Nome: Ronaldo Luiz Nazário de Lima (Ronaldinho)
Altura: 1,83 m
Peso: 83,4 kg [na copa de 98, última fonte confiável]
Data de nascimento: 22 de setembro de 1976
Principais Títulos: 2 Copas do Mundo [2002 e 1994 (reserva)]; Mundial Interclubes [2002]; Copa das Confederações [1997]; 2 Copas América [1997 e 1999].
Prêmios: 3 vezes melhor do mundo pela FIFA (1996, 1997 e 2002)

gols/jogo [média]: Times (temporadas)
57/59 [0.97]: Cruzeiro (93-94)
66/71 [0.93]: PSV Eindhoven (94-96)
47/51 [0.92]: Barcelona (96-97)
69/113 [0.61]: Internazionale (97-02)
114/180[0.63]: Real Madrid (2002-06)
61/97 [0.63]: Seleção*
06/09 [0.67]: Seleção Olímpica
(*) antes da final, 29/45 [0.64]

O JOGO

1º tempo
30s - Guivarc'h recebe lançamento na área, protege a bola e, marcado por Júnior Baiano, dá uma meia-bicicleta de dentro da pequena área. A bola cai na rede, pelo lado de fora, sobre o gol.
3' Zidane toca entre as pernas de Aldair para Guivarc'h, livre na grande área. O atacante é pressionado por Júnior Baiano e, caído, chuta fraco. Taffarel defende sem problemas.
6' Zidane cobra falta pela esquerda, na grande área. Livre, Djorkaeff cabeceia mal, à direita de Taffarel.
10' Djorkaeff dribla Júnior Baiano, vai à linha de fundo e cruza rasteiro. Aldair afasta.
17' Djorkaeff arrisca de fora da área, sem força, à direita de Taffarel.
20' Roberto Carlos tenta cruzar da esquerda, e a bola cai na rede, pelo lado de fora.
21' Ronaldo faz jogada individual pela esquerda e cruza fechado. Pressionado por Bebeto, Barthez defende sobre a linha, quase entrando no gol com a bola.
23' Leonardo cobra escanteio da direita, e Rivaldo, na grande área, cabeceia no centro do gol. Barthez, acrobático, defende.
28' Petit cobra escanteio pela direita, e Zidane, na entrada da pequena área, ganha de cabeça de Leonardo e faz seu primeiro gol na Copa do Mundo: França 1 a 0.
30' Ronaldo arranca em direção à área após lançamento e divide com Barthez, que dá um soco na bola. O atacante se machuca no lance, mas segue na partida.
35' Djorkaeff, em jogada individual, passa por Júnior Baiano e chuta rasteiro, de esquerda, da entrada da área. Taffarel defende com facilidade.
39' Leonardo cruza da direita na grande área, e Bebeto cabeceia fraco. Barthez pega.
41' Karembeu chuta de fora da área, a bola desvia em Júnior Baiano e sobra para Petit, que, livre dentro da área, bate forte de direita. A bola desvia em Júnior Baiano e raspa a trave direita de Taffarel.
44' Após lançamento de Thuram, Júnior Baiano falha ao não cortar de cabeça, e Guivarc'h, livre dentro da área, dispara de esquerda. Taffarel espalma, fazendo grande defesa.
46' Zidane ganha de Dunga, depois de escanteio da esquerda cobrado por Djorkaeff, e novamente marca de cabeça, com a bola passando entre as pernas de Roberto Carlos: 2 a 0.
47' Roberto Carlos bate falta da intermediária, a bola desvia na zaga e sai em escanteio.
2º tempo
5'Cafu tabela com Dunga e vai à linha de fundo, mas é travado por Desailly no momento do cruzamento.
7' Dunga arrisca da intermediária, à direita de Barthez.
11' Roberto Carlos cruza da esquerda, a bola sobra para Ronaldo, que, dentro da pequena área, chuta com força. Barthez faz grande defesa, sem soltar a bola.
15' Roberto Carlos cobra arremesso lateral na área, Barthez tenta interceptar e erra, e Bebeto chuta. Desailly evita o gol, desviando para escanteio.
17' Roberto Carlos cruza, e Rivaldo desvia para Ronaldo, que chuta prensado da entrada da área. Rivaldo ainda tenta de cabeça, e Barthez defende.
18' Cafu falha ao tentar recuar de cabeça para Taffarel, e Guivarc'h, livre na grande área, chuta por cima.
20' Boghossian arrisca da intermediária, por cima do gol.
22' O árbitro expulsa Desailly, que avançou em contra-ataque francês e, já com cartão amarelo, atingiu Cafu.
37' Dentro da área, sem marcação, Dugarry chuta torto, à direita de Taffarel.
39' Cafu recebe de Edmundo e cruza fechado da lateral da grande área. Barthez pega.
45' Edmundo passa para Denílson, que, na grande área, chuta forte. A bola resvala no travessão e sai.
48' Em contra-ataque francês, Vieira toca para Petit, que invade a área, ganha na corrida de Cafu e desloca Taffarel: 3 a 0.

Isto posto, aos recortes dos jornais da época...

Thursday, March 01, 1990

a sombra do passado (i)

Carta Aberta ao Futebol Brasileiro, de João Saldanha -- trechos.

"Pelé é o jogador mais sacrificado do futebol brasileiro. Ganha por jogo -- e precisa jogar, porque senão o seu clube não ganha. Acho que o Pelé faz muito bem. Mas ele é um ingênuo, uma criança, não sabe que é o homem mais explorado do mundo. Em torno dele, muita gente enriqueceu.

Contra esse rapaz têm sido cometidos os crimes mais estarrecedores. Não sei se vale a pena lembrar um caso em Milão, em 1963. Quando o chefe da delegação disse que Pelé teria de entrar em campo, o doutor Hilton Gosling recusou-se a fazer uma infilração de novocaína para que ele entrasse no circo romano para satisfazer as hienas que estavam nas arquibancadas. Pelé jogou dez minutos. Se não jogasse, não haveria jogo. O contrato com a Federação Italiana obrigava a sua presença.

Vem a Seleção Brasileira, e eu estou no meio do negócio. Feitos os exames médicos, são-me apresentados os problemas, mas superficialmente, sem nenhum caso sério. Fomos para o campo jogar a primeira partida com o Pelé, à noite.
(...)
Aconteceram duas ou três jogadas em que não era possível ele errar. Perguntei ao médico se havia alguma problema com Pelé. Ele disse que não. Veio outro jogo. Perguntei novamente ao médico e ele respondeu que não havia qualquer problema com Pelé. Quando Pelé errou duas ou três jogadas em outro jogo noturno, eu disse:

- Pelé errou aquelas jogadas porque não enxergou a bola.

Imprensei o médico e disse que notara algum problema com Pelé.

- Quero um exame completo de saúde da pona do cabelo à ponta dos pés. Jamais botarei no campo um jogador que não tenha condições físicas para disputar uma partida.

Então o doutor Lídio me confessou que Pelé sofria de miopia. Eu jamais revelei esse problema. E lamento que o doutor Lídio -- informante de um jornal do Rio, não sei se como assalariado ou gratuitamente -- tenha revelado isso.

Sobre minha demissão: o Havelange me chamou e me demitiu. O ato nada tinha a ver com provocações disso ou daquilo, mas sim com a revisão que eu havia pedido para Pelé.

O jogador vinha de uma série de atuações irregulares que me preocupavam. LAmento que Pelé ande pensando ou dizendo que está sendo enganado por mim. Nada tenho contra ele, só quero defendê-lo. Quando vi aquela cena em Milão, em 1963, a que me referi antes, saí aos berros protestando. Felizmente o doutor Hilton Gosling teve consciência de não fazer aquele negócio.

Sobre o doutor Lídio Toledo, médico da seleção: O doutor Lídio é um mau-caráter. Pelé estava com 38 graus de febre num dia, e no dia seguinte apareceu bom. O doutor Lídio me explicou:

- Apliquei nele este remédio. É por isso que ele está bom.

O remédio é Penbritin, um antibiótico que os astronautas que foram à Lua tomaram. Na hora da escalação de Pelé para o jogo seguinte, aquele treino contra o Bangu, perguntei ao doutor Lídio como estava a situação. Ele disse:

- Vai, João. Com aquela bomba, ele está zero quilômetro.

Agora, pergunto eu: como Pelé estará no quilômetro 70, tão envenenado que já foi?

Lamento a pusilanimidade e a insinceridade do doutor Lídio Toledo. Ele que me processe, se for capaz. Tenho o testemunho do jornalista Sandro Moreyra e do radialista Clóvis Filho: Sandro Moreyra segurava os braços de Garrincha, e Clóvis Filho lhe colocava uma toalha na boca para o doutor Lídio aplicar uma injeção no joelho do Mané, a fim de garantir a presença dele na partida do Botafogo contra o Peñarol. Garrincha também pode confirmar isso. O jornalista Doalcei Camargo também. Se Garrincha não entrasse, o Botafogo não jogaria.

O doutor Lídio tem uma habilidade fantástica. Ele pôs o Garrincha no campo, o Botafogo ganhou 8 ou 9 mil dólares, Garrincha ganhou seu bicho. Mas foi aos urros das injeções e infiltrações de cortisona e novocaína, tomada com uma toalha na boca, para resistir à dor. É isso que eu não admito, e por saber disso fui logo dizendo:

- Não quero que façam isso.

Agora, quando tirei Pelé do time, foi para ter a única esperança de contar com ele na Copa do Mundo. Quando eu quis tirá-lo, veio todo mundo em cima de mim:

- João -- disse um diretor da Seleção --, se o Pelé sair, o patrocinador não no paga mais.
- Mas eu não tenho nada com o patrocinador, sou apenas treinador de futebol.
- Não, João, não faça isso, senão não vamos ter mais dinheiro.

Se o médico me disse que Pelé tinha uma lesão de ligamentos no joelho direito, se me disse todos os venenos que ele tomou estes anos todos, se me disse que ele não podia ou não devia jogar de noite, minha obrigação era poupar Pelé, para que ele fosse tratado. Quando o médico falou tudo isso, pedi:

- O senhor pode me dar isso como um laudo por escrito?

Juro sob palavra de honra que até hoje não tenho qualquer laudo por escrito."

[João Saldanha, março de 1970]